William Lane Craig
Este
artigo é o texto da palestra do doutor Craig em 2015 na Universidade
de Birmingham, onde ele fez sua tese de doutorado que levou ao
renascimento do argumento cosmológico kalam nos nossos dias.
Quando
garoto, ficava admirado com a existência do universo. Eu me
perguntava de onde ele veio. Será que teve um começo? Lembro-me de
deitar na cama à noite tentando pensar num universo sem começo.
Todo evento seria precedido por outro evento, voltando no passado sem
cessar, sem nenhum ponto de parada — ou, para ser mais preciso,
nenhum ponto de partida! Um passado infinito, sem começo! Minha
mente ficava zonza com a ideia. Parecia inconcebível. Deve ter
havido um começo em algum momento, pensava eu, para que tudo se
iniciasse.
Não
tinha a menor suspeita de que, por séculos — por milênios, na
verdade —, muitos lutavam com a ideia de um passado infinito e a
questão da possibilidade de haver ou não um começo do universo.
Filósofos gregos antigos acreditavam que a matéria era necessária
e incriada e, portanto, eterna. Deus talvez fosse responsável por
trazer ordem ao cosmo, mas Ele não criou o universo em si.
Este
ponto de vista grego contrastava com o pensamento judaico, ainda mais
antigo, a respeito do assunto. Os escritores hebraicos criam que o
universo nem sempre existiu, mas foi criado por Deus em algum ponto
no passado. Como afirma o primeiro versículo das Escrituras Sagradas
hebraicas, “no princípio, Deus criou os céus e a terra”
(Gênesis 1.1).
Em
dado momento, essas duas tradições rivais começaram a interagir.
Apareceu na filosofia ocidental um debate contínuo que durou bem
mais de mil anos acerca da possibilidade do universo ter ou não um
começo. Este debate se desenvolveu entre judeus e muçulmanos, bem
como cristãos, tanto católicos quanto protestantes. Por último,
topou com um fim um tanto inconcluso no pensamento do grande filósofo
alemão do século XVIII, Immanuel Kant. Ele defendia, ironicamente,
que existem argumentos racionalmente convincentes nos dois lados,
expondo, pois, a falência da própria razão!
Vim
a saber deste debate pela primeira vez somente após terminar a
faculdade. Desejoso de chegar a uma posição sobre a questão,
decidi, assim que completasse meu mestrado em filosofia, encontrar
alguém disposto orientar uma tese de doutorado no assunto. A pessoa
que se sobressaía em relação a todos os demais era o professor
John Hick, na Universidade de Birmingham. Viemos, então, para
Birmingham, escrevi sobre o argumento cosmológico sob a direção do
professor Hick e, passado o tempo, três livros resultaram daquela
tese de doutorado. Consegui investigar as raízes históricas do
argumento, bem como aprofundar e desenvolver sua análise. Também
descobri ligações muito incríveis com a astronomia e cosmologia
contemporâneas.
Por
suas raízes históricas na teologia islâmica medieval, batizei o
argumento de “o argumento cosmológico kalam” (kalam é a palavra
árabe para teologia medieval). Atualmente este argumento, em grande
medida esquecido desde o tempo de Kant, voltou ao centro das
atenções. O Cambridge Companion to Atheism [Manual Cambridge de
Ateísmo] (2007) relata: “uma contagem dos artigos nos periódicos
de filosofia mostra que mais artigos foram publicados sobre ... o
argumento kalam do que sobre qualquer outra ... formulação
argumentativa para a existência de Deus [...] nem teístas nem ateus
‘conseguem deixar o argumento kalam em paz’” (p. 183).
Qual
é o argumento que despertou tanto interesse? Deixemos um dos maiores
protagonistas medievais nesse debate falar por si mesmo. Al-Gazali
foi teólogo muçulmano da Pérsia — ou Irã atual — no século
XII. Ele se preocupava que os filósofos muçulmanos de seus dias
eram influenciados pela filosofia grega antiga na negação da
criação do universo por Deus. Depois de estudar minuciosamente os
ensinamentos desses filósofos, Gazali escreveu uma crítica
destruidora da visão destes com o título A incoerência dos
filósofos. Neste livro intrigante, ele argumenta que a ideia de um
universo sem começo é absurda. O universo deve ter um começo e,
uma vez que nada começa a existir sem uma causa, deve haver um
criador transcendente do universo.
Gazali
formula seu argumento de forma muito simples: “Todo ser que começa
tem uma causa para seu começo; ora, o mundo é um ser que começa;
logo, ele possui uma causa para seu começo”.[1]
O raciocínio de
Gazali envolve três passos simples:
-
Tudo que começa a existir tem uma causa.
-
O universo começou a existir.
-
Logo, o universo tem uma causa.
Atentemos para cada
passo de seu argumento.
Premissa
1
Observe
que Gazali não precisa de uma premissa tão forte quanto (1) para
que seu argumento tenha êxito. A primeira premissa pode ser afirmada
de forma mais modesta.
1’. Se o universo
começou a existir, o universo tem uma causa para seu começo.
Esta
versão mais modesta da primeira premissa nos permitirá evitar
distrações sobre a possibilidade de partículas subatômicas que
são o resultado de processos de decaimento quântico virem a existir
sem uma causa. Esta suposta exceção a (1) é irrelevante a (1’).
Pois o universo compreende toda realidade contígua de espaço-tempo.
Logo, o universo vir a existir sem uma causa significa vir a existir
do nada, o que é absurdo. Nos eventos de decaimento quântico, as
partículas não vêm a existir do nada. Como adverte Christopher
Isham, o principal cosmólogo quântico da Grã-Bretanha,
É
preciso tomar cuidado ao usar a palavra “criação” em contexto
físico. Exemplo familiar é a criação de partículas elementares
em um acelerador. O que ocorre, porém, nessa situação, é a
conversão de um tipo de matéria em outro, com a quantidade total de
energia sendo preservada no processo.[2]
Assim, essa suposta
exceção a (1) não é exceção a (1’).
Dou aqui três
razões a favor da premissa (1’):
-
Algo não pode vir do nada. Alegar que algo pode vir a existir do nada é pior do que mágica. Quando um mágico tira o coelho da cartola, ao menos se tem o mágico, sem contar a cartola! Mas, se a premissa (1’) é negada, é preciso pensar que o universo inteiro apenas apareceu em algum ponto no passado por nenhuma razão. Ninguém, porém, acredita sinceramente que coisas — digamos, um cavalo ou uma vila esquimó — podem aparecer sem uma causa.
-
Se algo pode vir à existência do nada, torna-se inexplicável por que nada ou coisa alguma não vem a existir do nada. Pense assim: por que bicicletas e Beethoven e cerveja de raiz simplesmente não apareceram do nada? O que torna o nada algo tão discriminatório? O nada não pode ter coisa alguma que favoreça universos, pois o nada não tem nenhuma propriedade. E coisa alguma pode limitar o nada, pois não há coisa alguma para ser limitada!
-
A experiência comum e as informações científicas confirmam a verdade da premissa 1’. A ciência da cosmogonia se baseia no pressuposto de que existem condições causais para a origem do universo. É difícil, então, entender como alguém comprometido com a ciência moderna conseguiria negar que (1’) tem mais plausibilidade de ser verdadeiro do que falso.
Penso, pois, que a
primeira premissa do argumento cosmológico kalam é certamente
verdadeira.
Premissa
2
A
premissa mais controversa no argumento é a premissa 2, de que o
universo começou a existir. Isto não é de forma alguma evidente.
Examinemos tanto argumentos filosóficos quanto indícios científicos
a favor da premissa 2.
Primeiro
argumento filosófico
Gazali
argumentou que, se o universo nunca começou a existir, há um número
infinito de eventos anteriores a hoje. Ainda argumentou, porém, que
um número infinito de coisas não pode existir. Gazali admitiu que
um número potencialmente infinito de coisas pudesse existir, mas
negou que um número realmente infinito de coisas pudesse existir.
Quando
se diz que algo é potencialmente infinito, infinidade serve
simplesmente como limite ideal que jamais é alcançado. Por exemplo,
seria possível dividir qualquer distância finita pela metade, e em
seguida em quartos, depois em oitavos, em dezesseis partes, e assim
por diante até o infinito. O número de divisões é potencialmente
infinito, no sentido de que seria possível continuar dividindo sem
parar, mas nunca se chegaria a uma divisão em “infinitas partes”.
James se poderia ter um número realmente infinito de partes ou
divisões.
Pois
bem, Gazali não tem nenhum problema com a existência de infinitos
meramente potenciais, pois se tratam apenas de limites ideais. Ele
argumentou, porém, que, se um número realmente infinito de coisas
pudesse existir, diversos absurdos surgiriam. Se quisermos evitar
tais absurdos, devemos negar que um número realmente infinito de
coisas exista. Isso implica que um número de eventos passados não
pode ser realmente infinito. Logo, o universo não pode ser sem
começo; antes, o universo começou a existir.
Alega-se
com muita frequência que esse tipo de argumento foi invalidado por
avanços na matemática moderna. Na teoria moderna dos conjuntos, o
uso de conjuntos realmente infinitos é comum. Por exemplo, o
conjunto de números naturais {0, 1, 2, ...} possui um número
realmente infinito de membros. O número de membros nesse conjunto
não é apenas potencialmente infinito, de acordo com a teoria
moderna dos conjuntos; antes, o número de membros é realmente
infinito. Muitas pessoas inferem que esses avanços solapam o
argumento de Gazali.
Será
que é isso mesmo? A teoria moderna dos conjuntos mostra que, caso se
adotem alguns axiomas e regras, pode-se falar de conjuntos realmente
infinitos de forma coerente, sem se contradizer. Tudo que se consegue
com isso é mostrar como elaborar determinado universo de discurso
para falar coerentemente de infinitos reais. Isso nada faz para
mostrar que tais entidades matemáticas realmente existem ou que um
número realmente infinito de coisas pode realmente existir. Se
Gazali está certo, este universo de discurso pode ser considerado
como apenas um domínio da ficção, como o mundo de Sherlock Holmes
ou algo que existe em sua mente.
O
modo como Gazali revela a impossibilidade de um número realmente
infinito de coisas é imaginando como seria se tal conjunto pudesse
existir e, então, elaborando consequências absurdas. Compartilho
aqui uma das minhas ilustrações favoritas chamada “Hotel de
Hilbert”, criação do grande matemático alemão David Hilbert.
Hilbert
primeiramente nos convida a imaginar um hotel comum com um número
finito de quartos. Suponha ainda que todos os quartos estão
ocupados. Se um novo hóspede aparece na recepção à procura de um
quarto, o gerente diz: “Sinto muito, todos os quartos estão
ocupados”, e é o fim da história.
Imaginemos,
porém, diz Hilbert, um hotel com número infinito de quartos, e
suponhamos novamente que todos os quartos estão ocupados. Este fato
deve ser considerado com cuidado. Não há uma vaga sequer em todo o
hotel infinito; cada quarto tem uma pessoa de carne e osso. Suponha,
então, que um novo hóspede apareça na recepção à procura de um
quarto. “Sem problemas”, diz o gerente. Ele desloca a pessoa que
se hospedava no quarto 1 para o quarto 2, a pessoa que se hospedava
no quarto 2 para o quarto 3, a pessoa que se hospedava no quarto 3
para o quarto 4, e assim sucessivamente até o infinito. Em
consequência dessas mudanças de quarto, o quarto 1 agora está vago
e o novo hóspede, agradecido, pode entrar nele. Mas, antes dele
chegar, todos os quartos já estavam ocupados!
A
coisa fica cada vez pior! Suponhamos, então, diz Hilbert, que uma
infinidade de novos hóspedes apareça na recepção à procura de
quartos. “Sem problemas, sem problemas!”, diz o gerente. Ele
desloca a pessoa que se hospedava no quarto 1 para o quarto 2, a
pessoa que se hospedava no quarto 2 para o quarto 4, a pessoa que se
hospedava no quarto 3 para o quarto 6, sempre deslocando o hóspede
antigo para o quarto que tem o número duas vezes maior que seu
quarto atual. Uma vez que qualquer número multiplicado por duas é
par, todos os hóspedes acabam parando em quartos de número par.
Consequentemente, todos os quartos de número ímpar ficam vagos e a
infinidade de novos hóspedes pode ser acomodada facilmente. Na
verdade, o gerente poderia fazer isso um número infinito de vezes e
sempre acomodar infinitamente mais hóspedes. Porém, antes deles
chegarem, todos os quartos já estavam ocupados!
Como
um aluno comentou comigo uma vez, o Hotel de Hilbert, se pudesse
existir, teria o seguinte cartaz na entrada: “Não há mais vagas
(ainda aceitamos hóspedes)”. Será que um hotel desses pode
existir na realidade?
O
Hotel de Hilbert é absurdo. Como nada se atém à ilustração
envolvendo um hotel, o argumento pode ser generalizado para mostrar
que a existência de um número realmente infinito de coisas é
absurdo.
Às
vezes, há quem reaja ao Hotel de Hilbert dizendo que esses absurdos
surgem porque o conceito de infinidade está além de nossa
capacidade e não conseguimos entendê-lo. Uma reação dessas,
porém, é equivocada e ingênua. Como disse, a teoria dos conjuntos
infinitos é ramo muitíssimo avançado e bem compreendido da
matemática moderna. Os absurdos surgem porque entendemos, sim, a
natureza do infinito real. Hilbert era um cara esperto e sabia muito
bem como ilustrar as consequências bizarras da existência de um
número realmente infinito de coisas.
Na
verdade, a única coisa que o crítico pode fazer a essa hora é
aguentar o tranco e dizer que o Hotel de Hilbert não é absurdo. Às
vezes, os críticos tentarão justificar essa mudança dizendo que,
se um infinito real pudesse existir, tais situações seriam
exatamente o que esperaríamos. A resposta, no entanto, é
inadequada. Hilbert, obviamente, concordaria que, se um infinito
atual pudesse existir, a situação com o hotel imaginário é o que
esperaríamos. Do contrário, não seria uma boa ilustração! Mas a
questão é se um hotel desses é realmente possível.
Penso,
então, que o primeiro argumento de Gazali é bom. Mostra que o
número de eventos passados deve ser finito. Portanto, o universo
deve ter tido um começo. Podemos resumir o argumento de Gazali como
segue:
-
Um infinito real não pode existir.
-
Um regresso temporal infinito de eventos é um infinito real.
-
Logo, um regresso temporal infinito de eventos não pode existir.
Segundo
argumento filosófico
Gazali
tem um segundo argumento independente para a existência do universo.
A série de eventos passados, observa Gazali, foi formada
adicionando-se um evento após o outro. A série de eventos passados
é como uma sequência de peças de dominó caindo uma após a outra
até a última peça, hoje, ser atingida. Argumenta, porém, que
nenhuma série formada pelo acréscimo de um membro após o outro
pode ser realmente infinita. Pois não se pode passar por um número
infinito de elementos um de cada vez.
É
fácil ver isso no caso da tentativa de contar até o infinito. Não
importa quanto se conte, sempre haverá ainda uma infinidade de
números para contar.
Se
não é possível contar até o infinito, como seria possível fazer
contagem regressiva a partir do infinito? Seria como se alguém
alegasse ter feito contagem regressiva de todos os números
negativos, terminando no zero: ..., -3, -2, -1, 0. Parece loucura.
Pois, antes de poder contar 0, seria preciso contar -1, e, antes de
contar -1, seria preciso contar -2, e assim sucessivamente, de volta
ao infinito. Antes que qualquer número pudesse ser contado, uma
infinidade de números teria de ser contada primeiro. Acaba-se
arrastando cada vez mais longe no passado, a tal ponto que não é
possível mais contar nenhum número.
Então,
a última peça do dominó jamais poderia cair, se um número
infinito de peças tivesse que cair primeiro. Hoje, portanto, nunca
poderia chegar. Mas, obviamente, estamos aqui! Isto mostra que a
série de eventos passados deve ser finita e ter um começo.
Gazali
buscou aumentar a impossibilidade de formar um passado infinito ao
dar ilustrações dos absurdos que surgiriam, caso fosse possível
realizá-lo. Por exemplo, suponha que, para cada órbita que Saturno
completa ao redor do sol, Júpiter completa duas. Quanto maior a
órbita, mais Saturno fica para trás. Se continuarem a orbitar para
sempre, chegarão perto de um limite em que Saturno está
infinitamente atrás de Júpiter. Obviamente, nunca chegarão
realmente a esse limite.
Agora
invertamos a história: suponha que Júpiter e Saturno orbitam o sol
desde a eternidade passada. Qual terá completado mais órbitas? A
resposta é que o número de órbitas é exatamente o mesmo:
infinito! (Não podemos escapar deste argumento dizendo que infinito
não é um número. Na matemática moderna, é, sim, um número, o
número de elementos no conjunto {0, 1, 2, 3, ...}.) Mas isso parece
absurdo, pois, quanto mais orbitam, mais cresce a disparidade. Como,
então, o número de órbitas magicamente se torna igual, ao fazer
que os planetas orbitem desde a eternidade passada?
Outra
ilustração: suponha que encontremos alguém que afirma estar em
contagem regressiva desde a eternidade passada e está agora prestes
a completar: ... -3, -2, -1, 0! Ufa! Por que, pode-se perguntar, a
pessoa está para completar sua contagem regressiva só hoje? Por que
não terminou ontem ou anteontem? Afinal, até ali uma quantidade
infinita de tempo já passara. Assim, se a pessoa estivesse contando
numa velocidade de um número por segundo, já teve um número
infinito de segundos para completar sua contagem regressiva. Já
deveria ter acabado! Na verdade, em qualquer ponto no passado, já
teve tempo infinito e, por isso, já deveria ter terminado. Mas,
assim, em nenhum ponto no passado é possível encontrar a pessoa
prestes a completar sua contagem regressiva, o que contradiz a
hipótese de que já conta desde a eternidade.
Alexander
Pruss e Robert Koons recentemente defenderam uma atraente versão
contemporânea do argumento de Gazali chamada de Paradoxo do Anjo da
Morte. Existem infinitos Anjos da Morte (que podemos identificar como
deuses, para evitar quaisquer objeções físicas). Você está vivo
à meia-noite. O Anjo 1 o fulminará à uma da manhã, se você ainda
estiver vivo àquela hora. O Anjo 2 o fulminará à meia-noite e
meia, se você ainda estiver vivo na ocasião. O Anjo 3 o fulminará
à meia-noite e quinze, e assim por diante. Uma situação dessas
parece obviamente concebível, dada a possibilidade de um número
realmente infinito de coisas, mas leva a uma impossibilidade: você
não pode sobreviver depois da meia-noite e, ainda, você não pode
ser morto por qualquer Anjo da Morte a qualquer momento. Pruss e
Koons mostram como reformular o paradoxo para que os Anjos da Morte
se espalhem por um tempo infinito, e não em uma única hora, por
exemplo, fazendo com que cada Anjo da Morte ataque com sua foice no
1º. de janeiro de cada ano passado, se você tiver conseguido viver
tanto assim.
Estas
ilustrações apenas corroboram a afirmação de Gazali segundo a
qual nenhuma série formada pelo acréscimo de um membro após outro
pode ser realmente infinita. Uma vez que a série de eventos passados
foi formada pelo acréscimo de um evento após o outro, não pode ser
realmente infinita. Deve ter tido um começo. Temos, pois, um segundo
bom argumento para a premissa 2, de que o universo começou a
existir. Podemos resumir este argumento como segue:
-
Um conjunto formado pelo acréscimo sucessivo não pode ser um infinito real.
-
A série temporal de eventos é um conjunto formado por acréscimo sucessivo.
-
Logo, a série temporal de eventos não pode ser um infinito real.
Primeira
confirmação científica
Um
dos avanços mais espantosos da astronomia moderna, que Gazali nunca
teria previsto, é que agora temos fortes indícios científicos para
o começo do universo. A primeira confirmação científica do começo
do universo advém da expansão do universo.
Por
toda a história, os homens pressupuseram que o universo como um todo
não mudava. Evidentemente, as coisas no universo se moviam e
mudavam, mas o universo em si simplesmente existe, por assim dizer.
Foi este o pressuposto de Albert Einstein quando começou a aplicar
ao universo sua nova teoria da gravidade, chamada de Teoria Geral da
Relatividade, em 1917.
Einstein,
porém, achava que algo estava terrivelmente errado. Suas equações
descreviam um universo que inflava como um balão ou, então, ruía
em si mesmo. Durante a década de 1920, o matemático russo Alexander
Friedmann e o astrônomo belga Georges Lemaître decidiram levar as
equações de Einstein ao pé da letra e, consequentemente,
formularam independentemente um do outro modelos de um universo em
expansão. Em 1929, o astrônomo americano Edwin Hubble, por meio de
incansáveis observações no Observatório do Monte Wilson, fez uma
sensacional descoberta que validou a teoria de Friedmann e Lemaître.
Ele descobriu que a luz de galáxias distantes parecia ser mais
vermelha do que se esperava. Era muito mais plausível que este
“deslocamento vermelho” na luz fosse devido ao alongamento das
ondas de luz, à proporção que as galáxias se afastam de nós.
Toda vez que Hubble mirava seu telescópio no céu noturno, observava
o mesmo deslocamento vermelho na luz das galáxias. Parecia que
estamos no centro de uma explosão cósmica e todas as outras
galáxias fogem de nós a velocidades fantásticas!
Pois
bem, de acordo com o modelo de Friedmann-Lemaître, não estamos, na
verdade, no centro do universo. Antes, um observador em qualquer
galáxia olhará e perceberá as outras galáxias como se estivessem
se afastando de si mesmo. Isso porque, de acordo com a teoria, é, na
verdade, o próprio espaço que está em expansão. As galáxias
estão de fato em repouso no espaço, mas recuam umas das outras à
medida que o próprio espaço se expande.
O
modelo de Friedmann-Lemaître no devido tempo veio a ser conhecido
como a teoria do Big Bang ou Grande Expansão. O nome, porém, pode
gerar equívocos. Pensar na expansão do universo como uma espécie
de explosão pode nos fazer pensar equivocadamente que as galáxias
estão se movendo e entrando em espaço vazio pré-existente a partir
de um ponto central. Seria uma total falha de compreensão do modelo.
A teoria é muito mais radical do que isso.
Ao
rastrear a expansão do espaço de volta no tempo, tudo se aproxima
cada vez mais. Eventualmente, a distância entre dois pontos
quaisquer no espaço se torna zero. Mais perto do que isso,
impossível! Naquele ponto, então, atingiu-se o limite de espaço e
tempo. Espaço e tempo não podem ser recuados mais ainda. É
literalmente o começo de espaço e tempo.
Para
visualizar melhor, podemos retratar nosso espaço tridimensional como
um disco bidimensional que encolhe à medida que se recua no tempo
(Fig. 1).
Fig.
1. Representação geométrica do espaço-tempo. O disco
bidimensional representa nosso espaço tridimensional. A dimensão
vertical representa o tempo. À medida que se recua no tempo, o
espaço encolhe até a distância entre dois pontos quaisquer ser
zero. Espaço-tempo, portanto, representa a geometria de um cone. O
ponto do cone é o limite de espaço e tempo.
Eventualmente,
a distância entre dois pontos quaisquer no espaço se torna zero.
Assim, o espaço-tempo pode ser representado geometricamente como um
cone. Significativo é que, embora um cone possa se estender
indefinidamente em uma direção, ele possui um ponto de fronteira na
outra direção. Como esta direção representa o tempo e o ponto de
fronteira se encontra no passado, o modelo implica que o tempo
passado é finito e teve um começo.
Como
o espaço-tempo é a esfera em que toda matéria e energia existem, o
começo do espaço-tempo também é o começo de toda matéria e
energia. É o começo do universo.
Observe
que não há absolutamente nada antes do limite inicial de
espaço-tempo. Não nos equivoquemos com palavras, no entanto. Quando
os cosmólogos dizem: “Não existe nada antes do limite inicial”,
não querem dizer que existe uma situação anterior a ele, sendo um
estado de inexistência. Seria como tratar nada como se fosse algo!
Pelo contrário, querem dizer que, no ponto de fronteira, é falso
dizer que “existe algo antes deste ponto”.
O
modelo padrão do Big Bang prevê, pois, um começo absoluto do
universo. Se o modelo está correto, temos confirmação científica
incrível da segunda premissa do argumento cosmológico kalam.
O
modelo padrão está, então, correto, ou — o que é mais
importante — ele está correto ao prever um começo do universo? A
despeito de sua confirmação empírica, o modelo padrão do Big Bang
precisará ser modificado de diversas maneiras. O modelo é baseado,
como vimos, na Teoria Geral da Relatividade de Einstein. Mas a teoria
de Einstein pára quando o espaço é encolhido em proporções
subatômicas. Precisaremos introduzir a física quântica nesse
ponto, e ninguém sabe exatamente como se deve fazê-lo. Além disso,
a expansão do universo provavelmente não é constante, como no
modelo padrão. Provavelmente está acelerando e talvez tenha tido um
breve momento de expansão super-rápida no passado.
Nenhum
desses ajustes, todavia, afetaria a previsão fundamental do começo
absoluto do universo. Na verdade, físicos propuseram inúmeros
modelos alternativos ao longo das décadas desde o trabalho de
Friedmann e Lemaître, e aquelas que não têm um começo absoluto
repetidamente se mostraram impraticáveis. Visto de modo mais
positivo, os únicos modelos não-convencionais viáveis são aqueles
que envolvem um começo absoluto do universo. Tal começo pode ou não
envolver um ponto de começo. Mas, segundo teorias (como a proposta
“sem limite” de Stephen Hawking) que não têm um começo com
algo como um ponto, o passado ainda é finito, e não infinito. O
universo não existiu eternamente, de acordo com essas teorias, mas
veio à existência, mesmo que não o tenha feito em um ponto
precisamente definido.
Em
certo sentido, a história da cosmologia do século XX pode ser
encarada como uma série de uma tentativa frustrada após a outra
para evitar o começo absoluto previsto pelo modelo padrão do Big
Bang. Tal perdição se manteve por praticamente cem anos, durante
período de enormes avanços na astronomia de observação e trabalho
teórico criativo na astrofísica.
Nesse
ínterim, uma série de notáveis teoremas de singularidade cada vez
mais consagrou modelos empiricamente defensáveis, ao mostrar que, em
condições cada vez mais generalizadas, um começo é inevitável.
Em 2003, Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin conseguiram
mostrar que qualquer qualquer universo que está, em média, em
estado de expansão cósmica ao longo de cada história, não pode
ser infinito no passado, mas deve ter um começo. Isso se aplica a
hipóteses de multiversos também. Em 2012, Vilenkin mostrou que
modelos que não correspondem a essa condição ainda são incapazes,
por outras razões, de evitar o começo do universo. Vilenkin
concluiu: “nenhuma dessas hipóteses pode ser de fato eterna no
passado”.[3] “Todos os indícios que possuímos dizem que o
universo teve um começo”.[4]
O
teorema de Borde-Guth-Vilenkin prova que o espaço-tempo clássico,
sob uma única condição muito geral, não pode ser estendido para o
infinito passado, mas deve atingir uma fronteira em algum momento no
passado finito. Ora, havia algo no outro lado da fronteira ou não
havia. Se não havia, a fronteira simplesmente é o começo do
universo. Se havia algo no outro lado, será uma região descrita
pela teoria da gravidade quântica, ainda a ser descoberta. No caso,
diz Vilenkin, esse algo será o começo do universo. Seja como for, o
universo começou a existir.
Evidentemente,
conclusões científicas são sempre provisórias. Podemos esperar
perfeitamente que novas teorias serão propostas, na tentativa de
evitar o começo do universo. Tais propostas devem ser bem-vindas e
examinadas. Todavia, é bastante claro para qual lado os indícios
apontam. Atualmente, o proponente do argumento cosmológico de Gazali
se posiciona comodamente dentro da ciência dominante ao defender que
o universo começou a existir.
Segundo
argumento científico
Como
se não bastasse, existe na realidade uma segunda confirmação
científica do começo do universo, desta vez da Segunda Lei da
Termodinâmica. De acordo com a Segunda Lei, a menos que energia seja
introduzida num sistema, este ficará cada vez mais desordenado.
Pois
bem, já no século XIX, os cientistas notaram que a Segunda Lei
implicava uma sombria previsão para o futuro do universo. Dado tempo
o suficiente, toda a energia no universo se espalhará uniformemente
por todo o universo. O universo virará um caldo descaracterizado em
que a vida não é possível. É um estado de equilíbrio. Os
cientistas o designaram de a “morte térmica” do universo.
Essa
previsão indesejada fez surgir outro enigma: se, dado tempo
suficiente, o universo inevitavelmente no futuro estagnará em estado
de morte térmica, por que, se ele existiu eternamente, não está
agora em estado de morte térmica? Se em quantidade finita de tempo o
universo no futuro atingirá equilíbrio, dado tempo passado
infinito, ele deveria já estar agora mesmo em estado de equilíbrio.
Mas não o está. Estamos em estado de desequilíbrio, em que energia
ainda está disponível para ser usada e o universo tem uma estrutura
ordenada.
O
físico alemão Ludwig Boltzmann, do século XIX, propôs solução
ousada a esse problema. Boltzmann sugeriu que talvez o universo
esteja, de fato, em estado de equilíbrio geral. Não obstante,
somente pelo acaso, surgirão focos de desequilíbrio mais ordeiros
aqui e ali. Boltzmann refere-se a essas regiões isoladas de
desequilíbrio como “mundos”. Nosso universo apenas calha de ser
um desses mundos. No devido tempo, de acordo com a Segunda Lei, ele
reverterá para o estado geral de equilíbrio.
Físico
contemporâneos rejeitaram universalmente a ousada Hipótese de
Muitos Mundos de Boltzmann como explicação do desequilíbrio
observado no universo. Seu erro fatal é que, se nosso mundo é
meramente uma flutuação fortuita de um estado de equilíbrio geral,
deveríamos estar observando uma extensão muito menor de ordem. Por
quê? Porque uma pequena flutuação do equilíbrio é muitíssimo
mais provável que a enorme flutuação contínua necessária para
criar o universo que vemos, e ainda assim uma pequena flutuação
seria suficiente para nossa existência. Por exemplo, uma flutuação
que formou um mundo não muito maior do que nosso sistema solar
deveria bastar para que nós estivéssemos vivos e seria
inimaginavelmente mais provável de acontecer do que uma flutuação
que formou todo o universo que vemos!
Na
realidade, a hipótese de Boltzmann, se aplicada de forma coerente,
levaria a uma estranha espécie de ilusionismo: com toda
probabilidade, habitamos, sim, um mundo menor, e as estrelas e
planetas que observamos são apenas ilusões, meras imagens nos céus.
Pois essa espécie de mundo é muito mais provável do que um
universo que, a despeito da Segunda Lei da Termodinâmica,
deslocou-se do equilíbrio por bilhões de anos para formar o
universo que observamos.
A
descoberta da expansão do universo na década de 1920 modificou o
tipo de morte térmica predita com base na Segunda Lei, mas não
alterou a questão fundamental. Descobertas recentes indicam que a
expansão cósmica está, na verdade, em aceleração. Como o volume
de espaço aumenta tão rapidamente, o universo realmente fica cada
vez mais longe de um estado de equilíbrio em que matéria e energia
se distribuem uniformemente. A aceleração da expansão do universo,
no entanto, somente apressa sua morte. Pois agora as diferentes
regiões do universo se tornam cada vez mais isoladas umas das outras
no espaço e cada região abandonada se torna sombria, fria, difusa e
morta. Mais uma vez, por que nossa região não está nesse estado,
se o universo já existe por tempo infinito?
A
implicação óbvia de tudo isso é que a questão se baseia em
pressuposto falso, a saber, que o universo existe por tempo infinito.
Hoje em dia, a maioria dos físicos diria que a matéria e a energia
foram simplesmente colocadas no universo como condição inicial, e o
universo continua a seguir o caminho traçado pela Segunda Lei desde
seu começo, um tempo finito atrás.
É
claro que houve tentativas de evitar o começo do universo previsto
com base na Segunda Lei da Termodinâmica. Nenhuma, porém, teve
êxito. Os céticos talvez mantenham a esperança de que a gravidade
quântica servirá para evitar as implicações da Segunda Lei da
Termodinâmica. Em 2013, porém, o cosmólogo Aron Wall, da
Universidade da Califórnia, conseguiu formular um novo teorema de
singularidade que parece fechar a porta àquela possibilidade. Wall
mostra que, dada a validade da Segunda Lei geral da Termodinâmica na
gravidade quântica, o universo deve ter começado a existir, a menos
que se postule uma inversão na flecha do tempo (o tempo caminhando
para trás!) em algum ponto no passado, o que, conforme ele observa
corretamente, envolve um começo termodinâmico no tempo que
“pareceria trazer à tona os mesmos tipos de questões filosóficas
que qualquer outro tipo de começo no tempo traria”.[5] Wall relata
que suas conclusões exigem a validade de apenas alguns conceitos
básicos, de modo que “é razoável crer que as conclusões se
sustentarão em uma teoria completa da gravidade quântica”.
Assim,
mais uma vez, os indícios científicos confirmam a verdade da
segunda premissa do argumento cosmológico de Gazali.
Conclusão
Com
base, portanto, tanto em indícios filosóficos quanto científicos,
temos bons motivos para crer que o universo começou a existir. Logo,
segue que o universo tem uma causa para seu começo.
Quais
propriedades essa causa do universo deve possuir? Essa causa deve ser
em si não-causada, pois vimos que uma série infinita de causas é
impossível. Trata-se, portanto, da Causa Primeira Não-causada. Deve
transcender espaço e tempo, já que criou espaço e tempo. Deve,
portanto, ser imaterial e não-física. Deve ser inimaginavelmente
poderosa, uma vez que criou toda matéria e energia.
Por
fim, Gazali argumentou que a Causa Primeira Não-causada deve também
se tratar de um ser pessoal. É a única forma de explicar como uma
causa eterna é capaz de produzir um efeito com um começo, como o
universo.
Eis
aí o problema: se uma causa é suficiente para produzir seu efeito,
então, se a causa existe, o efeito deve existir também. Por
exemplo, a causa do congelamento da água é a temperatura abaixo de
0 grau Celsius. Se a temperatura está abaixo de 0 grau Celsius desde
a eternidade, qualquer água existente estaria congelada desde a
eternidade. Seria impossível que a água começasse a congelar
apenas algum tempo finito atrás. Ora, a causa do universo existe
permanentemente, por ser atemporal. Por que, então, o universo não
existe permanentemente também? Por que o universo veio a existir
apenas 14 bilhões de anos atrás? Por que não é tão permanente
quanto sua causa?
Gazali
manteve que a resposta para esse problema é que a Causa Primeira
deve se tratar de um ser pessoal dotado de livre-arbítrio. Sua
criação do universo é ato livre, independente de quaisquer
condições determinantes anteriores. Assim, seu ato de criação
pode ser algo espontâneo e novo. Livre-arbítrio permite que se
consiga um efeito com um começo a partir de uma causa atemporal e
permanente. Assim, somos conduzidos não simplesmente a uma causa
transcendente do universo, mas a seu criador pessoal.
Deve-se
admitir a dificuldade de imaginar isso, mas uma forma de pensar a
esse respeito é vislumbrar Deus como se ele existisse sozinho sem o
universo, sendo sem mudanças e atemporal. Seu livre ato de criação
é evento temporal simultâneo ao evento do universo ao vir à
existência. Portanto, Deus entra no tempo quando cria o universo.
Sendo assim, Deus é atemporal sem o universo e está no tempo com o
universo.
O
argumento cosmológico de Gazali nos oferece, portanto, fortes
motivos para acreditar na existência de um criador pessoal do
universo que é sem começo, sem causa, atemporal, não-espacial, sem
mudanças, imaterial e imensamente poderoso.
[1] Al-Gazali, Kitab
al-Iqtisad fi’l-I’tiqad, citado em S. de Beaurecueil, “Gazzali
et S. Thomas d’Aquin: Essai sur la preuve de l’existence de Dieu
proposée dans l’Iqtisad et sa comparaison avec les ‘voies’
thomistes”, Bulletin de l’Institut français d’archéologie
orientale 46 (1947): 203.
[2] Christopher
Isham, “Creation of the Universe as a Quantum Process”, p. 378.
[3] Audrey Mithani e
Alexander Vilenkin, “Did the universe have a beginning?”,
<http://arxiv.org/abs/1204.4658> (20 de abril de 2012), p. 5.
Para um vídeo acessível, ver
<http://www.youtube.com/watch?v=NXCQelhKJ7A>, em que Vilenkin
conclui que “não há no momento modelos que forneçam um modelo
satisfatório de um universo sem começo”.
[4] A. Vilenkin,
citado em Lisa Grossman, “Why physicists can't avoid a creation
event”, New Scientist (11 de janeiro de 2012). Disponível em:
<https://www.newscientist.com/article/mg21328474-400-why-physicists-cant-avoid-a-creation-event/>.
[5] Aron C. Wall,
“The Generalized Second Law implies a Quantum Singularity Theorem”,
arXiv: 1010.5513v3 [gr-qc] 24 (janeiro de 2013), p. 38,
<http://arxiv.org/abs/1010.5513>.