O ARGUMENTO COSMOLÓGICO DE KALAM

William Lane Craig

Este artigo é o texto da palestra do doutor Craig em 2015 na Universidade de Birmingham, onde ele fez sua tese de doutorado que levou ao renascimento do argumento cosmológico kalam nos nossos dias.

Quando garoto, ficava admirado com a existência do universo. Eu me perguntava de onde ele veio. Será que teve um começo? Lembro-me de deitar na cama à noite tentando pensar num universo sem começo. Todo evento seria precedido por outro evento, voltando no passado sem cessar, sem nenhum ponto de parada — ou, para ser mais preciso, nenhum ponto de partida! Um passado infinito, sem começo! Minha mente ficava zonza com a ideia. Parecia inconcebível. Deve ter havido um começo em algum momento, pensava eu, para que tudo se iniciasse.

Não tinha a menor suspeita de que, por séculos — por milênios, na verdade —, muitos lutavam com a ideia de um passado infinito e a questão da possibilidade de haver ou não um começo do universo. Filósofos gregos antigos acreditavam que a matéria era necessária e incriada e, portanto, eterna. Deus talvez fosse responsável por trazer ordem ao cosmo, mas Ele não criou o universo em si.

Este ponto de vista grego contrastava com o pensamento judaico, ainda mais antigo, a respeito do assunto. Os escritores hebraicos criam que o universo nem sempre existiu, mas foi criado por Deus em algum ponto no passado. Como afirma o primeiro versículo das Escrituras Sagradas hebraicas, “no princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1).

Em dado momento, essas duas tradições rivais começaram a interagir. Apareceu na filosofia ocidental um debate contínuo que durou bem mais de mil anos acerca da possibilidade do universo ter ou não um começo. Este debate se desenvolveu entre judeus e muçulmanos, bem como cristãos, tanto católicos quanto protestantes. Por último, topou com um fim um tanto inconcluso no pensamento do grande filósofo alemão do século XVIII, Immanuel Kant. Ele defendia, ironicamente, que existem argumentos racionalmente convincentes nos dois lados, expondo, pois, a falência da própria razão!

Vim a saber deste debate pela primeira vez somente após terminar a faculdade. Desejoso de chegar a uma posição sobre a questão, decidi, assim que completasse meu mestrado em filosofia, encontrar alguém disposto orientar uma tese de doutorado no assunto. A pessoa que se sobressaía em relação a todos os demais era o professor John Hick, na Universidade de Birmingham. Viemos, então, para Birmingham, escrevi sobre o argumento cosmológico sob a direção do professor Hick e, passado o tempo, três livros resultaram daquela tese de doutorado. Consegui investigar as raízes históricas do argumento, bem como aprofundar e desenvolver sua análise. Também descobri ligações muito incríveis com a astronomia e cosmologia contemporâneas.

Por suas raízes históricas na teologia islâmica medieval, batizei o argumento de “o argumento cosmológico kalam” (kalam é a palavra árabe para teologia medieval). Atualmente este argumento, em grande medida esquecido desde o tempo de Kant, voltou ao centro das atenções. O Cambridge Companion to Atheism [Manual Cambridge de Ateísmo] (2007) relata: “uma contagem dos artigos nos periódicos de filosofia mostra que mais artigos foram publicados sobre ... o argumento kalam do que sobre qualquer outra ... formulação argumentativa para a existência de Deus [...] nem teístas nem ateus ‘conseguem deixar o argumento kalam em paz’” (p. 183).

Qual é o argumento que despertou tanto interesse? Deixemos um dos maiores protagonistas medievais nesse debate falar por si mesmo. Al-Gazali foi teólogo muçulmano da Pérsia — ou Irã atual — no século XII. Ele se preocupava que os filósofos muçulmanos de seus dias eram influenciados pela filosofia grega antiga na negação da criação do universo por Deus. Depois de estudar minuciosamente os ensinamentos desses filósofos, Gazali escreveu uma crítica destruidora da visão destes com o título A incoerência dos filósofos. Neste livro intrigante, ele argumenta que a ideia de um universo sem começo é absurda. O universo deve ter um começo e, uma vez que nada começa a existir sem uma causa, deve haver um criador transcendente do universo.

Gazali formula seu argumento de forma muito simples: “Todo ser que começa tem uma causa para seu começo; ora, o mundo é um ser que começa; logo, ele possui uma causa para seu começo”.[1]

O raciocínio de Gazali envolve três passos simples:

  1. Tudo que começa a existir tem uma causa.
  2. O universo começou a existir.
  3. Logo, o universo tem uma causa.

Atentemos para cada passo de seu argumento.

Premissa 1

Observe que Gazali não precisa de uma premissa tão forte quanto (1) para que seu argumento tenha êxito. A primeira premissa pode ser afirmada de forma mais modesta.

1’. Se o universo começou a existir, o universo tem uma causa para seu começo.

Esta versão mais modesta da primeira premissa nos permitirá evitar distrações sobre a possibilidade de partículas subatômicas que são o resultado de processos de decaimento quântico virem a existir sem uma causa. Esta suposta exceção a (1) é irrelevante a (1’). Pois o universo compreende toda realidade contígua de espaço-tempo. Logo, o universo vir a existir sem uma causa significa vir a existir do nada, o que é absurdo. Nos eventos de decaimento quântico, as partículas não vêm a existir do nada. Como adverte Christopher Isham, o principal cosmólogo quântico da Grã-Bretanha,

É preciso tomar cuidado ao usar a palavra “criação” em contexto físico. Exemplo familiar é a criação de partículas elementares em um acelerador. O que ocorre, porém, nessa situação, é a conversão de um tipo de matéria em outro, com a quantidade total de energia sendo preservada no processo.[2]

Assim, essa suposta exceção a (1) não é exceção a (1’).

Dou aqui três razões a favor da premissa (1’):

  1. Algo não pode vir do nada. Alegar que algo pode vir a existir do nada é pior do que mágica. Quando um mágico tira o coelho da cartola, ao menos se tem o mágico, sem contar a cartola! Mas, se a premissa (1’) é negada, é preciso pensar que o universo inteiro apenas apareceu em algum ponto no passado por nenhuma razão. Ninguém, porém, acredita sinceramente que coisas — digamos, um cavalo ou uma vila esquimó — podem aparecer sem uma causa.
  2. Se algo pode vir à existência do nada, torna-se inexplicável por que nada ou coisa alguma não vem a existir do nada. Pense assim: por que bicicletas e Beethoven e cerveja de raiz simplesmente não apareceram do nada? O que torna o nada algo tão discriminatório? O nada não pode ter coisa alguma que favoreça universos, pois o nada não tem nenhuma propriedade. E coisa alguma pode limitar o nada, pois não há coisa alguma para ser limitada!
  3. A experiência comum e as informações científicas confirmam a verdade da premissa 1’. A ciência da cosmogonia se baseia no pressuposto de que existem condições causais para a origem do universo. É difícil, então, entender como alguém comprometido com a ciência moderna conseguiria negar que (1’) tem mais plausibilidade de ser verdadeiro do que falso.

Penso, pois, que a primeira premissa do argumento cosmológico kalam é certamente verdadeira.

Premissa 2

A premissa mais controversa no argumento é a premissa 2, de que o universo começou a existir. Isto não é de forma alguma evidente. Examinemos tanto argumentos filosóficos quanto indícios científicos a favor da premissa 2.

Primeiro argumento filosófico

Gazali argumentou que, se o universo nunca começou a existir, há um número infinito de eventos anteriores a hoje. Ainda argumentou, porém, que um número infinito de coisas não pode existir. Gazali admitiu que um número potencialmente infinito de coisas pudesse existir, mas negou que um número realmente infinito de coisas pudesse existir.

Quando se diz que algo é potencialmente infinito, infinidade serve simplesmente como limite ideal que jamais é alcançado. Por exemplo, seria possível dividir qualquer distância finita pela metade, e em seguida em quartos, depois em oitavos, em dezesseis partes, e assim por diante até o infinito. O número de divisões é potencialmente infinito, no sentido de que seria possível continuar dividindo sem parar, mas nunca se chegaria a uma divisão em “infinitas partes”. James se poderia ter um número realmente infinito de partes ou divisões.

Pois bem, Gazali não tem nenhum problema com a existência de infinitos meramente potenciais, pois se tratam apenas de limites ideais. Ele argumentou, porém, que, se um número realmente infinito de coisas pudesse existir, diversos absurdos surgiriam. Se quisermos evitar tais absurdos, devemos negar que um número realmente infinito de coisas exista. Isso implica que um número de eventos passados não pode ser realmente infinito. Logo, o universo não pode ser sem começo; antes, o universo começou a existir.

Alega-se com muita frequência que esse tipo de argumento foi invalidado por avanços na matemática moderna. Na teoria moderna dos conjuntos, o uso de conjuntos realmente infinitos é comum. Por exemplo, o conjunto de números naturais {0, 1, 2, ...} possui um número realmente infinito de membros. O número de membros nesse conjunto não é apenas potencialmente infinito, de acordo com a teoria moderna dos conjuntos; antes, o número de membros é realmente infinito. Muitas pessoas inferem que esses avanços solapam o argumento de Gazali.

Será que é isso mesmo? A teoria moderna dos conjuntos mostra que, caso se adotem alguns axiomas e regras, pode-se falar de conjuntos realmente infinitos de forma coerente, sem se contradizer. Tudo que se consegue com isso é mostrar como elaborar determinado universo de discurso para falar coerentemente de infinitos reais. Isso nada faz para mostrar que tais entidades matemáticas realmente existem ou que um número realmente infinito de coisas pode realmente existir. Se Gazali está certo, este universo de discurso pode ser considerado como apenas um domínio da ficção, como o mundo de Sherlock Holmes ou algo que existe em sua mente.

O modo como Gazali revela a impossibilidade de um número realmente infinito de coisas é imaginando como seria se tal conjunto pudesse existir e, então, elaborando consequências absurdas. Compartilho aqui uma das minhas ilustrações favoritas chamada “Hotel de Hilbert”, criação do grande matemático alemão David Hilbert.

Hilbert primeiramente nos convida a imaginar um hotel comum com um número finito de quartos. Suponha ainda que todos os quartos estão ocupados. Se um novo hóspede aparece na recepção à procura de um quarto, o gerente diz: “Sinto muito, todos os quartos estão ocupados”, e é o fim da história.

Imaginemos, porém, diz Hilbert, um hotel com número infinito de quartos, e suponhamos novamente que todos os quartos estão ocupados. Este fato deve ser considerado com cuidado. Não há uma vaga sequer em todo o hotel infinito; cada quarto tem uma pessoa de carne e osso. Suponha, então, que um novo hóspede apareça na recepção à procura de um quarto. “Sem problemas”, diz o gerente. Ele desloca a pessoa que se hospedava no quarto 1 para o quarto 2, a pessoa que se hospedava no quarto 2 para o quarto 3, a pessoa que se hospedava no quarto 3 para o quarto 4, e assim sucessivamente até o infinito. Em consequência dessas mudanças de quarto, o quarto 1 agora está vago e o novo hóspede, agradecido, pode entrar nele. Mas, antes dele chegar, todos os quartos já estavam ocupados!

A coisa fica cada vez pior! Suponhamos, então, diz Hilbert, que uma infinidade de novos hóspedes apareça na recepção à procura de quartos. “Sem problemas, sem problemas!”, diz o gerente. Ele desloca a pessoa que se hospedava no quarto 1 para o quarto 2, a pessoa que se hospedava no quarto 2 para o quarto 4, a pessoa que se hospedava no quarto 3 para o quarto 6, sempre deslocando o hóspede antigo para o quarto que tem o número duas vezes maior que seu quarto atual. Uma vez que qualquer número multiplicado por duas é par, todos os hóspedes acabam parando em quartos de número par. Consequentemente, todos os quartos de número ímpar ficam vagos e a infinidade de novos hóspedes pode ser acomodada facilmente. Na verdade, o gerente poderia fazer isso um número infinito de vezes e sempre acomodar infinitamente mais hóspedes. Porém, antes deles chegarem, todos os quartos já estavam ocupados!

Como um aluno comentou comigo uma vez, o Hotel de Hilbert, se pudesse existir, teria o seguinte cartaz na entrada: “Não há mais vagas (ainda aceitamos hóspedes)”. Será que um hotel desses pode existir na realidade?

O Hotel de Hilbert é absurdo. Como nada se atém à ilustração envolvendo um hotel, o argumento pode ser generalizado para mostrar que a existência de um número realmente infinito de coisas é absurdo.

Às vezes, há quem reaja ao Hotel de Hilbert dizendo que esses absurdos surgem porque o conceito de infinidade está além de nossa capacidade e não conseguimos entendê-lo. Uma reação dessas, porém, é equivocada e ingênua. Como disse, a teoria dos conjuntos infinitos é ramo muitíssimo avançado e bem compreendido da matemática moderna. Os absurdos surgem porque entendemos, sim, a natureza do infinito real. Hilbert era um cara esperto e sabia muito bem como ilustrar as consequências bizarras da existência de um número realmente infinito de coisas.

Na verdade, a única coisa que o crítico pode fazer a essa hora é aguentar o tranco e dizer que o Hotel de Hilbert não é absurdo. Às vezes, os críticos tentarão justificar essa mudança dizendo que, se um infinito real pudesse existir, tais situações seriam exatamente o que esperaríamos. A resposta, no entanto, é inadequada. Hilbert, obviamente, concordaria que, se um infinito atual pudesse existir, a situação com o hotel imaginário é o que esperaríamos. Do contrário, não seria uma boa ilustração! Mas a questão é se um hotel desses é realmente possível.

Penso, então, que o primeiro argumento de Gazali é bom. Mostra que o número de eventos passados deve ser finito. Portanto, o universo deve ter tido um começo. Podemos resumir o argumento de Gazali como segue:

  1. Um infinito real não pode existir.
  2. Um regresso temporal infinito de eventos é um infinito real.
  3. Logo, um regresso temporal infinito de eventos não pode existir.

Segundo argumento filosófico

Gazali tem um segundo argumento independente para a existência do universo. A série de eventos passados, observa Gazali, foi formada adicionando-se um evento após o outro. A série de eventos passados é como uma sequência de peças de dominó caindo uma após a outra até a última peça, hoje, ser atingida. Argumenta, porém, que nenhuma série formada pelo acréscimo de um membro após o outro pode ser realmente infinita. Pois não se pode passar por um número infinito de elementos um de cada vez.

É fácil ver isso no caso da tentativa de contar até o infinito. Não importa quanto se conte, sempre haverá ainda uma infinidade de números para contar.
Se não é possível contar até o infinito, como seria possível fazer contagem regressiva a partir do infinito? Seria como se alguém alegasse ter feito contagem regressiva de todos os números negativos, terminando no zero: ..., -3, -2, -1, 0. Parece loucura. Pois, antes de poder contar 0, seria preciso contar -1, e, antes de contar -1, seria preciso contar -2, e assim sucessivamente, de volta ao infinito. Antes que qualquer número pudesse ser contado, uma infinidade de números teria de ser contada primeiro. Acaba-se arrastando cada vez mais longe no passado, a tal ponto que não é possível mais contar nenhum número.

Então, a última peça do dominó jamais poderia cair, se um número infinito de peças tivesse que cair primeiro. Hoje, portanto, nunca poderia chegar. Mas, obviamente, estamos aqui! Isto mostra que a série de eventos passados deve ser finita e ter um começo.

Gazali buscou aumentar a impossibilidade de formar um passado infinito ao dar ilustrações dos absurdos que surgiriam, caso fosse possível realizá-lo. Por exemplo, suponha que, para cada órbita que Saturno completa ao redor do sol, Júpiter completa duas. Quanto maior a órbita, mais Saturno fica para trás. Se continuarem a orbitar para sempre, chegarão perto de um limite em que Saturno está infinitamente atrás de Júpiter. Obviamente, nunca chegarão realmente a esse limite.

Agora invertamos a história: suponha que Júpiter e Saturno orbitam o sol desde a eternidade passada. Qual terá completado mais órbitas? A resposta é que o número de órbitas é exatamente o mesmo: infinito! (Não podemos escapar deste argumento dizendo que infinito não é um número. Na matemática moderna, é, sim, um número, o número de elementos no conjunto {0, 1, 2, 3, ...}.) Mas isso parece absurdo, pois, quanto mais orbitam, mais cresce a disparidade. Como, então, o número de órbitas magicamente se torna igual, ao fazer que os planetas orbitem desde a eternidade passada?

Outra ilustração: suponha que encontremos alguém que afirma estar em contagem regressiva desde a eternidade passada e está agora prestes a completar: ... -3, -2, -1, 0! Ufa! Por que, pode-se perguntar, a pessoa está para completar sua contagem regressiva só hoje? Por que não terminou ontem ou anteontem? Afinal, até ali uma quantidade infinita de tempo já passara. Assim, se a pessoa estivesse contando numa velocidade de um número por segundo, já teve um número infinito de segundos para completar sua contagem regressiva. Já deveria ter acabado! Na verdade, em qualquer ponto no passado, já teve tempo infinito e, por isso, já deveria ter terminado. Mas, assim, em nenhum ponto no passado é possível encontrar a pessoa prestes a completar sua contagem regressiva, o que contradiz a hipótese de que já conta desde a eternidade.

Alexander Pruss e Robert Koons recentemente defenderam uma atraente versão contemporânea do argumento de Gazali chamada de Paradoxo do Anjo da Morte. Existem infinitos Anjos da Morte (que podemos identificar como deuses, para evitar quaisquer objeções físicas). Você está vivo à meia-noite. O Anjo 1 o fulminará à uma da manhã, se você ainda estiver vivo àquela hora. O Anjo 2 o fulminará à meia-noite e meia, se você ainda estiver vivo na ocasião. O Anjo 3 o fulminará à meia-noite e quinze, e assim por diante. Uma situação dessas parece obviamente concebível, dada a possibilidade de um número realmente infinito de coisas, mas leva a uma impossibilidade: você não pode sobreviver depois da meia-noite e, ainda, você não pode ser morto por qualquer Anjo da Morte a qualquer momento. Pruss e Koons mostram como reformular o paradoxo para que os Anjos da Morte se espalhem por um tempo infinito, e não em uma única hora, por exemplo, fazendo com que cada Anjo da Morte ataque com sua foice no 1º. de janeiro de cada ano passado, se você tiver conseguido viver tanto assim.

Estas ilustrações apenas corroboram a afirmação de Gazali segundo a qual nenhuma série formada pelo acréscimo de um membro após outro pode ser realmente infinita. Uma vez que a série de eventos passados foi formada pelo acréscimo de um evento após o outro, não pode ser realmente infinita. Deve ter tido um começo. Temos, pois, um segundo bom argumento para a premissa 2, de que o universo começou a existir. Podemos resumir este argumento como segue:

  1. Um conjunto formado pelo acréscimo sucessivo não pode ser um infinito real.
  2. A série temporal de eventos é um conjunto formado por acréscimo sucessivo.
  3. Logo, a série temporal de eventos não pode ser um infinito real.

Primeira confirmação científica

Um dos avanços mais espantosos da astronomia moderna, que Gazali nunca teria previsto, é que agora temos fortes indícios científicos para o começo do universo. A primeira confirmação científica do começo do universo advém da expansão do universo.

Por toda a história, os homens pressupuseram que o universo como um todo não mudava. Evidentemente, as coisas no universo se moviam e mudavam, mas o universo em si simplesmente existe, por assim dizer. Foi este o pressuposto de Albert Einstein quando começou a aplicar ao universo sua nova teoria da gravidade, chamada de Teoria Geral da Relatividade, em 1917.

Einstein, porém, achava que algo estava terrivelmente errado. Suas equações descreviam um universo que inflava como um balão ou, então, ruía em si mesmo. Durante a década de 1920, o matemático russo Alexander Friedmann e o astrônomo belga Georges Lemaître decidiram levar as equações de Einstein ao pé da letra e, consequentemente, formularam independentemente um do outro modelos de um universo em expansão. Em 1929, o astrônomo americano Edwin Hubble, por meio de incansáveis observações no Observatório do Monte Wilson, fez uma sensacional descoberta que validou a teoria de Friedmann e Lemaître. Ele descobriu que a luz de galáxias distantes parecia ser mais vermelha do que se esperava. Era muito mais plausível que este “deslocamento vermelho” na luz fosse devido ao alongamento das ondas de luz, à proporção que as galáxias se afastam de nós. Toda vez que Hubble mirava seu telescópio no céu noturno, observava o mesmo deslocamento vermelho na luz das galáxias. Parecia que estamos no centro de uma explosão cósmica e todas as outras galáxias fogem de nós a velocidades fantásticas!

Pois bem, de acordo com o modelo de Friedmann-Lemaître, não estamos, na verdade, no centro do universo. Antes, um observador em qualquer galáxia olhará e perceberá as outras galáxias como se estivessem se afastando de si mesmo. Isso porque, de acordo com a teoria, é, na verdade, o próprio espaço que está em expansão. As galáxias estão de fato em repouso no espaço, mas recuam umas das outras à medida que o próprio espaço se expande.

O modelo de Friedmann-Lemaître no devido tempo veio a ser conhecido como a teoria do Big Bang ou Grande Expansão. O nome, porém, pode gerar equívocos. Pensar na expansão do universo como uma espécie de explosão pode nos fazer pensar equivocadamente que as galáxias estão se movendo e entrando em espaço vazio pré-existente a partir de um ponto central. Seria uma total falha de compreensão do modelo. A teoria é muito mais radical do que isso.

Ao rastrear a expansão do espaço de volta no tempo, tudo se aproxima cada vez mais. Eventualmente, a distância entre dois pontos quaisquer no espaço se torna zero. Mais perto do que isso, impossível! Naquele ponto, então, atingiu-se o limite de espaço e tempo. Espaço e tempo não podem ser recuados mais ainda. É literalmente o começo de espaço e tempo.

Para visualizar melhor, podemos retratar nosso espaço tridimensional como um disco bidimensional que encolhe à medida que se recua no tempo (Fig. 1).


Fig. 1. Representação geométrica do espaço-tempo. O disco bidimensional representa nosso espaço tridimensional. A dimensão vertical representa o tempo. À medida que se recua no tempo, o espaço encolhe até a distância entre dois pontos quaisquer ser zero. Espaço-tempo, portanto, representa a geometria de um cone. O ponto do cone é o limite de espaço e tempo.

Eventualmente, a distância entre dois pontos quaisquer no espaço se torna zero. Assim, o espaço-tempo pode ser representado geometricamente como um cone. Significativo é que, embora um cone possa se estender indefinidamente em uma direção, ele possui um ponto de fronteira na outra direção. Como esta direção representa o tempo e o ponto de fronteira se encontra no passado, o modelo implica que o tempo passado é finito e teve um começo.

Como o espaço-tempo é a esfera em que toda matéria e energia existem, o começo do espaço-tempo também é o começo de toda matéria e energia. É o começo do universo.

Observe que não há absolutamente nada antes do limite inicial de espaço-tempo. Não nos equivoquemos com palavras, no entanto. Quando os cosmólogos dizem: “Não existe nada antes do limite inicial”, não querem dizer que existe uma situação anterior a ele, sendo um estado de inexistência. Seria como tratar nada como se fosse algo! Pelo contrário, querem dizer que, no ponto de fronteira, é falso dizer que “existe algo antes deste ponto”.
O modelo padrão do Big Bang prevê, pois, um começo absoluto do universo. Se o modelo está correto, temos confirmação científica incrível da segunda premissa do argumento cosmológico kalam.

O modelo padrão está, então, correto, ou — o que é mais importante — ele está correto ao prever um começo do universo? A despeito de sua confirmação empírica, o modelo padrão do Big Bang precisará ser modificado de diversas maneiras. O modelo é baseado, como vimos, na Teoria Geral da Relatividade de Einstein. Mas a teoria de Einstein pára quando o espaço é encolhido em proporções subatômicas. Precisaremos introduzir a física quântica nesse ponto, e ninguém sabe exatamente como se deve fazê-lo. Além disso, a expansão do universo provavelmente não é constante, como no modelo padrão. Provavelmente está acelerando e talvez tenha tido um breve momento de expansão super-rápida no passado.

Nenhum desses ajustes, todavia, afetaria a previsão fundamental do começo absoluto do universo. Na verdade, físicos propuseram inúmeros modelos alternativos ao longo das décadas desde o trabalho de Friedmann e Lemaître, e aquelas que não têm um começo absoluto repetidamente se mostraram impraticáveis. Visto de modo mais positivo, os únicos modelos não-convencionais viáveis são aqueles que envolvem um começo absoluto do universo. Tal começo pode ou não envolver um ponto de começo. Mas, segundo teorias (como a proposta “sem limite” de Stephen Hawking) que não têm um começo com algo como um ponto, o passado ainda é finito, e não infinito. O universo não existiu eternamente, de acordo com essas teorias, mas veio à existência, mesmo que não o tenha feito em um ponto precisamente definido.

Em certo sentido, a história da cosmologia do século XX pode ser encarada como uma série de uma tentativa frustrada após a outra para evitar o começo absoluto previsto pelo modelo padrão do Big Bang. Tal perdição se manteve por praticamente cem anos, durante período de enormes avanços na astronomia de observação e trabalho teórico criativo na astrofísica.

Nesse ínterim, uma série de notáveis teoremas de singularidade cada vez mais consagrou modelos empiricamente defensáveis, ao mostrar que, em condições cada vez mais generalizadas, um começo é inevitável. Em 2003, Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin conseguiram mostrar que qualquer qualquer universo que está, em média, em estado de expansão cósmica ao longo de cada história, não pode ser infinito no passado, mas deve ter um começo. Isso se aplica a hipóteses de multiversos também. Em 2012, Vilenkin mostrou que modelos que não correspondem a essa condição ainda são incapazes, por outras razões, de evitar o começo do universo. Vilenkin concluiu: “nenhuma dessas hipóteses pode ser de fato eterna no passado”.[3] “Todos os indícios que possuímos dizem que o universo teve um começo”.[4]

O teorema de Borde-Guth-Vilenkin prova que o espaço-tempo clássico, sob uma única condição muito geral, não pode ser estendido para o infinito passado, mas deve atingir uma fronteira em algum momento no passado finito. Ora, havia algo no outro lado da fronteira ou não havia. Se não havia, a fronteira simplesmente é o começo do universo. Se havia algo no outro lado, será uma região descrita pela teoria da gravidade quântica, ainda a ser descoberta. No caso, diz Vilenkin, esse algo será o começo do universo. Seja como for, o universo começou a existir.

Evidentemente, conclusões científicas são sempre provisórias. Podemos esperar perfeitamente que novas teorias serão propostas, na tentativa de evitar o começo do universo. Tais propostas devem ser bem-vindas e examinadas. Todavia, é bastante claro para qual lado os indícios apontam. Atualmente, o proponente do argumento cosmológico de Gazali se posiciona comodamente dentro da ciência dominante ao defender que o universo começou a existir.

Segundo argumento científico

Como se não bastasse, existe na realidade uma segunda confirmação científica do começo do universo, desta vez da Segunda Lei da Termodinâmica. De acordo com a Segunda Lei, a menos que energia seja introduzida num sistema, este ficará cada vez mais desordenado.

Pois bem, já no século XIX, os cientistas notaram que a Segunda Lei implicava uma sombria previsão para o futuro do universo. Dado tempo o suficiente, toda a energia no universo se espalhará uniformemente por todo o universo. O universo virará um caldo descaracterizado em que a vida não é possível. É um estado de equilíbrio. Os cientistas o designaram de a “morte térmica” do universo.

Essa previsão indesejada fez surgir outro enigma: se, dado tempo suficiente, o universo inevitavelmente no futuro estagnará em estado de morte térmica, por que, se ele existiu eternamente, não está agora em estado de morte térmica? Se em quantidade finita de tempo o universo no futuro atingirá equilíbrio, dado tempo passado infinito, ele deveria já estar agora mesmo em estado de equilíbrio. Mas não o está. Estamos em estado de desequilíbrio, em que energia ainda está disponível para ser usada e o universo tem uma estrutura ordenada.

O físico alemão Ludwig Boltzmann, do século XIX, propôs solução ousada a esse problema. Boltzmann sugeriu que talvez o universo esteja, de fato, em estado de equilíbrio geral. Não obstante, somente pelo acaso, surgirão focos de desequilíbrio mais ordeiros aqui e ali. Boltzmann refere-se a essas regiões isoladas de desequilíbrio como “mundos”. Nosso universo apenas calha de ser um desses mundos. No devido tempo, de acordo com a Segunda Lei, ele reverterá para o estado geral de equilíbrio.

Físico contemporâneos rejeitaram universalmente a ousada Hipótese de Muitos Mundos de Boltzmann como explicação do desequilíbrio observado no universo. Seu erro fatal é que, se nosso mundo é meramente uma flutuação fortuita de um estado de equilíbrio geral, deveríamos estar observando uma extensão muito menor de ordem. Por quê? Porque uma pequena flutuação do equilíbrio é muitíssimo mais provável que a enorme flutuação contínua necessária para criar o universo que vemos, e ainda assim uma pequena flutuação seria suficiente para nossa existência. Por exemplo, uma flutuação que formou um mundo não muito maior do que nosso sistema solar deveria bastar para que nós estivéssemos vivos e seria inimaginavelmente mais provável de acontecer do que uma flutuação que formou todo o universo que vemos!

Na realidade, a hipótese de Boltzmann, se aplicada de forma coerente, levaria a uma estranha espécie de ilusionismo: com toda probabilidade, habitamos, sim, um mundo menor, e as estrelas e planetas que observamos são apenas ilusões, meras imagens nos céus. Pois essa espécie de mundo é muito mais provável do que um universo que, a despeito da Segunda Lei da Termodinâmica, deslocou-se do equilíbrio por bilhões de anos para formar o universo que observamos.

A descoberta da expansão do universo na década de 1920 modificou o tipo de morte térmica predita com base na Segunda Lei, mas não alterou a questão fundamental. Descobertas recentes indicam que a expansão cósmica está, na verdade, em aceleração. Como o volume de espaço aumenta tão rapidamente, o universo realmente fica cada vez mais longe de um estado de equilíbrio em que matéria e energia se distribuem uniformemente. A aceleração da expansão do universo, no entanto, somente apressa sua morte. Pois agora as diferentes regiões do universo se tornam cada vez mais isoladas umas das outras no espaço e cada região abandonada se torna sombria, fria, difusa e morta. Mais uma vez, por que nossa região não está nesse estado, se o universo já existe por tempo infinito?

A implicação óbvia de tudo isso é que a questão se baseia em pressuposto falso, a saber, que o universo existe por tempo infinito. Hoje em dia, a maioria dos físicos diria que a matéria e a energia foram simplesmente colocadas no universo como condição inicial, e o universo continua a seguir o caminho traçado pela Segunda Lei desde seu começo, um tempo finito atrás.

É claro que houve tentativas de evitar o começo do universo previsto com base na Segunda Lei da Termodinâmica. Nenhuma, porém, teve êxito. Os céticos talvez mantenham a esperança de que a gravidade quântica servirá para evitar as implicações da Segunda Lei da Termodinâmica. Em 2013, porém, o cosmólogo Aron Wall, da Universidade da Califórnia, conseguiu formular um novo teorema de singularidade que parece fechar a porta àquela possibilidade. Wall mostra que, dada a validade da Segunda Lei geral da Termodinâmica na gravidade quântica, o universo deve ter começado a existir, a menos que se postule uma inversão na flecha do tempo (o tempo caminhando para trás!) em algum ponto no passado, o que, conforme ele observa corretamente, envolve um começo termodinâmico no tempo que “pareceria trazer à tona os mesmos tipos de questões filosóficas que qualquer outro tipo de começo no tempo traria”.[5] Wall relata que suas conclusões exigem a validade de apenas alguns conceitos básicos, de modo que “é razoável crer que as conclusões se sustentarão em uma teoria completa da gravidade quântica”.

Assim, mais uma vez, os indícios científicos confirmam a verdade da segunda premissa do argumento cosmológico de Gazali.

Conclusão

Com base, portanto, tanto em indícios filosóficos quanto científicos, temos bons motivos para crer que o universo começou a existir. Logo, segue que o universo tem uma causa para seu começo.

Quais propriedades essa causa do universo deve possuir? Essa causa deve ser em si não-causada, pois vimos que uma série infinita de causas é impossível. Trata-se, portanto, da Causa Primeira Não-causada. Deve transcender espaço e tempo, já que criou espaço e tempo. Deve, portanto, ser imaterial e não-física. Deve ser inimaginavelmente poderosa, uma vez que criou toda matéria e energia.

Por fim, Gazali argumentou que a Causa Primeira Não-causada deve também se tratar de um ser pessoal. É a única forma de explicar como uma causa eterna é capaz de produzir um efeito com um começo, como o universo.

Eis aí o problema: se uma causa é suficiente para produzir seu efeito, então, se a causa existe, o efeito deve existir também. Por exemplo, a causa do congelamento da água é a temperatura abaixo de 0 grau Celsius. Se a temperatura está abaixo de 0 grau Celsius desde a eternidade, qualquer água existente estaria congelada desde a eternidade. Seria impossível que a água começasse a congelar apenas algum tempo finito atrás. Ora, a causa do universo existe permanentemente, por ser atemporal. Por que, então, o universo não existe permanentemente também? Por que o universo veio a existir apenas 14 bilhões de anos atrás? Por que não é tão permanente quanto sua causa?

Gazali manteve que a resposta para esse problema é que a Causa Primeira deve se tratar de um ser pessoal dotado de livre-arbítrio. Sua criação do universo é ato livre, independente de quaisquer condições determinantes anteriores. Assim, seu ato de criação pode ser algo espontâneo e novo. Livre-arbítrio permite que se consiga um efeito com um começo a partir de uma causa atemporal e permanente. Assim, somos conduzidos não simplesmente a uma causa transcendente do universo, mas a seu criador pessoal.

Deve-se admitir a dificuldade de imaginar isso, mas uma forma de pensar a esse respeito é vislumbrar Deus como se ele existisse sozinho sem o universo, sendo sem mudanças e atemporal. Seu livre ato de criação é evento temporal simultâneo ao evento do universo ao vir à existência. Portanto, Deus entra no tempo quando cria o universo. Sendo assim, Deus é atemporal sem o universo e está no tempo com o universo.

O argumento cosmológico de Gazali nos oferece, portanto, fortes motivos para acreditar na existência de um criador pessoal do universo que é sem começo, sem causa, atemporal, não-espacial, sem mudanças, imaterial e imensamente poderoso.

[1] Al-Gazali, Kitab al-Iqtisad fi’l-I’tiqad, citado em S. de Beaurecueil, “Gazzali et S. Thomas d’Aquin: Essai sur la preuve de l’existence de Dieu proposée dans l’Iqtisad et sa comparaison avec les ‘voies’ thomistes”, Bulletin de l’Institut français d’archéologie orientale 46 (1947): 203.
[2] Christopher Isham, “Creation of the Universe as a Quantum Process”, p. 378.
[3] Audrey Mithani e Alexander Vilenkin, “Did the universe have a beginning?”, <http://arxiv.org/abs/1204.4658> (20 de abril de 2012), p. 5. Para um vídeo acessível, ver <http://www.youtube.com/watch?v=NXCQelhKJ7A>, em que Vilenkin conclui que “não há no momento modelos que forneçam um modelo satisfatório de um universo sem começo”.
[4] A. Vilenkin, citado em Lisa Grossman, “Why physicists can't avoid a creation event”, New Scientist (11 de janeiro de 2012). Disponível em: <https://www.newscientist.com/article/mg21328474-400-why-physicists-cant-avoid-a-creation-event/>.
[5] Aron C. Wall, “The Generalized Second Law implies a Quantum Singularity Theorem”, arXiv: 1010.5513v3 [gr-qc] 24 (janeiro de 2013), p. 38, <http://arxiv.org/abs/1010.5513>.

TOMÁS DE AQUINO E OS ARGUMENTOS PARA PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS (OU SOBRE AS CINCO VIAS)

Frank Wyllys Cabral Lira[1].

Resumo

A Suma Teológica é possivelmente a obra mais famosa e estudada do filósofo Santo Tomás de Aquino. Entretanto, na questão dois do primeiro livro (no início da Prima Parspara ser mais exato) temos como título para o capítulo a seguinte pergunta: Deus existe? Para não somente responder o capítulo como tentar responder a pergunta que o filósofo nos apresenta “cinco vias” para provar a existência de Deus. Portanto, este trabalho dará foco a apresentação e explanação dessas cinco vias argumentativas.

Palavras-chave: Santo Tomás de Aquino, argumentos, cinco vias, Deus.

Chegando às cinco vias

Antes mesmo de apresentar e explanar os argumentos do Santo Tomás de Aquino para provar a existência de Deus, será feito uma rápida menção a sua história de vida e a obra na qual está presente tais argumentos. Filho do conde Landolfo de Aquino e de Teodora, Tomás nasceu no castelo de Aquino, em Roccasecca, entre o ano de 1224/1225. De 1230 à 1239 é educado na abadia de Monte Cassino. De 1239 à 1244 ele estuda Artes Liberais na Universidade de Nápoles. Em 1244, Tomás entra para à ordem mendicante dos frades dominicanos de Nápoles (mesmo a família sendo contra essa entrada). Vai para Paris para fazer seu noviciado na Universidade de Paris, tendo como mestre Alberto Magno e recebendo sua ordenação sacerdotal entre 1250/1251. Inicia a escrita da Suma Teológicaem 1268, terminando-a em 1273[2].

A Suma teológica é a sua obra mais conhecida e utilizada. O título de cada capítulo é um questionamento, sendo desenvolvido nele mesmo a resposta para esse. Toda a sua obra segue uma minuciosa estrutura argumentativa devido a influência de Aristóteles no pensamento do filósofo – e isso será facilmente percebido quando explanarmos as cinco vias argumentativas de Tomás. A Suma se dividirá em três grandes partes – pois é assim que a obra é habitualmente apresentada: Prima Pars, Secunda Pars – a segunda parte se apresenta dividida em mais duas partes e por isso a Suma contém habitualmente quatro volumes – e Tertia Pars. Os argumentos de Tomás de Aquino a favor da existência de Deus está na Prima Pars, pois nela é que se trata de Deus. Querendo em primeiro lugar tratar Deus segundo o que Ele é em si mesmo, conseguimos observar na Prima Pars duas subdivisões: o que se relaciona à essência divina e o que pertence à distinção entre pessoas. Entretanto, devido Deus ser o princípio e fim de todas as coisas, fala-se igualmente da forma pela qual as criaturas procedem de Deus. É nesse ponto que entra as cinco vias.

Conhecendo as cinco vias

Segundo o pensamento Tomista abordado na Suma Teológica, o problema central da filosofia é a de responder os questionamentos sobre Deus – se Ele existe ou não por exemplo – enquanto que o principal intuito da Doutrina Sagrada é o de transmitir o conhecimento de Deus. Segundo Tomás, a própria estrutura do ser humano exige que o conhecimento comece pelos seus sentidos, elevando-se a partir deles ao mundo suprassensível, a Deus. A Suma Teológica retoma a metafísica aristotélica através de uma interpretação cristã afim de poder fundamentar as provas para a existência de Deus.

Por fim, a questão número dois do primeiro livro da Suma trata do seguinte problema filosófico: Deus existe? Para Tomás de Aquino, sim, mas a existência dEle não é assim algo evidente a ponto de somente haver feito a apreensão de seu termo ou definição para efetivamente saber que existe – e aqui está a crítica de Tomás ao argumento ontológico. Tomás expõe inicialmente na questão de número dois argumentos contra a existência de Deus – o primeiro argumento apresentado, por exemplo, é sobre o problema do mal -, mostrando neles sua falta de cogência.

Entretanto não são somente apresentados argumentos a favor da inexistência de Deus: para Tomás de Aquino é possível provar a existência de Deus através de “cinco vias”, cinco argumentos. Todas as cinco vias necessitam de uma causa transcendente, pois sem tal ela não poderia existir. São essas vias, no final, formas de chegar a um único lugar – pois o efeito existe, portanto, deve existir uma causa. Uma única prova – que no caso é Deus – fundamentada por cinco caminhos diferentes.

As cinco vias são as seguintes:

  1. Via do movimento/primeiro motor;
  2. Via da causa eficiente;
  3. Via do contingente e do necessário;
  4. Via do graus de perfeição;
  5. Via do governo das coisas/da finalidade ser.

Via do movimento/primeiro motor

A primeira via fala de um fato do mundo: o movimento. Conseguimos facilmente perceber o movimento das coisas através de nosso sentidos. Proposicionalmente falando[3], a primeira via pode ser assim apresentada:

  1. No mundo, algumas coisas são movidas.
  2. Tudo o que é movido é movido por outro.
  3. Não se pode preceder até ao infinito nos moventes e movidos.
  4. Logo, é necessário um primeiro motor, que é Deus.

Primeiro, consideremos aqui movimento toda e qualquer transformação, mutação ou mudança. Conseguimos perceber no mundo o movimento de algumas coisas (1), sendo esta premissa facilmente constatável pela nossa sensibilidade. Com relação a premissa seguinte será necessário apresentar duas palavras: potência e ato. Para Tomás de Aquino a palavra potência significa aquilo que é movido ou aquilo que recebe o movimento. Ato significa aquilo que move ou que inicia o movimento. O que está sendo movido está sempre em potência para o movente, enquanto que o movente está sempre em ato para o movido (2) – ou seja: o ato antecede a potência assim como o movente antecede o movido. Devido a essa relação ato-potência, não é possível fazer uma regressão ao infinito entre moventes e movidos (3) porque nunca acharemos o primeiro movente (e como a relação ato-potência se dá através de ações em cadeia, nada seria movido). Logo, devido constatarmos através de nossa sensibilidade a relação ato-potência no mundo, é preciso admitirmos um primeiro motor, que é Deus.

Via da causa eficiente

Na segunda via é defendida a existência de uma causa primeira para conseguir explicar a cadeia de causas que acontecem no mundo. Proposicionalmente falando, a segunda via pode ser assim apresentada:

  1. No mundo todas as coisas tem uma causa eficiente.
  2. Nada pode ser a causa eficiente de si mesmo.
  3. Não é possível que se proceda até o infinito nas causas eficientes.
  4. Logo, existe uma causa primeira eficiente, que é Deus.

Causa eficiente tem por definição algo produzir outro algo – e no mundo conseguimos observar uma ordem de causas eficientes e seus efeitos como bem aponta a premissa (1). E se o último algo produzir um terceiro algo e assim o ciclo continuar sucessivamente, assim teremos uma ordem de causas eficientes. Se, por exemplo, X produz Y, X é a causa eficiente de Y. Y não pode ser a causa eficiente de si mesmo, mas apenas efeito de uma causa eficiente (2) – que no caso é X. Portanto, como observamos os efeitos, fazer um regresso ao infinito para chegar a causa eficiente primeira torna-se impossível, pois assim como na primeira via, caso não assumíssemos uma causa eficiente primeira, não haveria qualquer efeito posterior (3). Por fim, se existem efeitos no mundo, é preciso que exista uma causa eficiente primeira, sendo ela Deus (4).

Via do contingente e do necessário

Na terceira via é defendida a existência de um ser necessário na qual dependem todos os seres contingentes. Proposicionalmente falando, a terceira via pode ser assim apresentada:

  1. No mundo, há coisas contingentes que existem mas poderiam não existir.
  2. Mas é preciso que algo seja necessário entre as coisas.
  3. Não é possível que se proceda ao infinito nas coisas necessárias.
  4. Logo, existe um primeiro necessário, que é Deus.

No mundo podemos constatar as coisas contingentes, pois elas poderiam ser ou não ser/existir ou não existir. Computadores por exemplo não existiam no passado, mas agora existem. O ser humano pode facilmente estar dentro da categoria dos contingentes: uma hora existimos e numa outra hora não mais (1). Se toda sorte de coisa é contingente, então em algum momento essas deixarão de existir. Devido ao absurdo dessa consideração, é preciso de alguma coisa que seja necessária para dar origem aos contingentes (2). Entretanto, regredir ao infinito nas coisas necessárias é impossível, pois será preciso um necessário por si que seja a causa de outros necessários (3). Essa primeira coisa necessária causadora de outras coisas é Deus (4).

Via dos graus de perfeição

A quarta via fala sobre a existência de um ser máximo na qual todos os seres presentes no mundo participam no mesmo com Ele em diferentes graus de perfeição. Proposicionalmente falando, a quarta via pode ser assim apresentada:

  1. No mundo, as coisas têm diferentes graus de perfeição.
  2. Os graus de perfeição atribuem-se em relação à proximidade do grau máximo.
  3. O grau máximo de um gênero é a causa de todas as coisas desse gênero.
  4. Logo, há algo que é a causa da existência para todas as coisas, que é Deus.

É facilmente observável que, no mundo, as coisas que chegam a nosso entendimento através de nossos sentidos contém determinado grau de perfeição – seja esse grau para mais ou para menos e segundo também nosso julgamento diante de tais coisas (1). Estando esses graus presentes desde os objetos mais comuns até os sentimentos mais obscuros ou nobres, julgamos sobre tais grais de tais coisas tendo como referência alguma coisa de grau máximo (2). Mas esses graus máximos que temos como referência para determinada coisa é o que da existência de todos do seu gênero (3). Ainda mais: se para cada coisa existente existe um grau máximo, portanto, deve existir um Ser que contém todos os atributos e coisas possíveis em seus graus de perfeição no máximo – e que seria geradora de todas as coisas em grau de perfeição menos (4). Esse Ser é Deus.

Não somente Deus pode ter algo em seu grau de perfeição máximo como todo e qualquer ser pode assim ter esse grau máximo, bastando participar da Suma Perfeição. Ou seja: uma coisa ou ser somente consegue chegar a seu grau máximo de perfeição caso participe da perfeição do Ser mais perfeito – pois Deus é fonte de toda coisa ou ser, transcendendo a ordem natural do mundo devido a sua perfeição.

Via do governo das coisas/da finalidade do ser

Na quinta e última via Tomás de Aquino argumenta sobre a existência de arquiteto inteligente que governa, coordena ou dá uma finalidade a todas as coisas no mundo. Proposicionalmente falando, a quinta via pode ser assim apresentada:

  1. No mundo, algumas coisas operam por causa de um fim.
  2. Estas coisas não atingem o fim por acaso.
  3. Estas coisas não tendem para um fim a não ser que estejam sendo dirigidas por algo inteligente.
  4. Logo, existe algo inteligente, que é Deus, que dirige as coisas a um fim.

Tomás aqui faz referência a finalidade das coisas do mundo. Existem certas coisas que não tem inteligência e que, regidas pelas leis da natureza, são ordenadas e contém a finalidade certa (1). Assim como a flecha, em sua finalidade única, é direcionada para seu alvo pelo arqueiro, as coisas não recebem uma finalidade arbitrária (2). Devido ao tamanho e a diversidade de coisas presentes no mundo, não é possível observar a harmonia e ordem do mundo e a finalidade específica presente em cada coisa carente de inteligência – ou até mesmo não a contendo – sem pensar na possibilidade de haver uma inteligência por trás de tudo (3). Como existem essas coisas ou seres de pouca ou nenhuma inteligência realizando seus atos com finalidade específica e de forma harmoniosa com o outro que preenche o mundo, deve haver sim um ser inteligente que governa, coordena e atribui as devidas finalidades a esses. Por fim, o Ser inteligente é Deus (4).

Complementando as cinco vias

Ressalto aqui que, reunindo as informações presentes nas cinco vias, podemos montar um singelo quadro onde comparamos Deus e suas Criaturas – pois como ele é o início e fim de todas as coisas, também devemos perceber como as criaturas voltam-se para Ele:

Deus Criaturas
Ser necessário Ser contingente
Ato puro Ato e potência (transformação)
Imutável Mutável
Infinito Finito
Causa de sua própria existência Sua existência depende de algo externo
Sua Essência é Existência Ser que possui existência (concreto) e possui uma essência (abstrato)

Com essa leitura explanada dos cinco argumentos propostos por Tomás de Aquino para provar a existência de Deus – e assim cumprindo com o problema central da filosofia que segundo o filósofo deve se assegurar de resolver os questionamentos sobre Ele -, fica nítida a influência que Aristóteles exerceu através de seus escritos nesse filósofo medieval – principalmente na parte metafísica e lógica. Contribuindo com a tradição medieval de conciliar a fé com a razão, Tomás de Aquino abre mais uma porta para aqueles que desejam chegar a Deus (pois a primeira teve origem em Santo Agostinho através da ontologia, valendo observar a influência que Platão teve nele). É observável também a influência do uso da empiria, pois, diferente do acesso a Deus por via da gnosiologia inata, temos Tomás de Aquino fazendo uso da empiria de Aristóteles. Ou seja: é no mundo que vemos as provas da existência de Deus, pois todas as vias partem de uma realidade verificável e concreta, tendo Tomás suas racionais demonstrações a posteriori. Perceba que Tomás de Aquino não pretendeu dizer o que era Deus, mas apenas provar sua existência.

Porém, alguns pontos importantes antecedem as cinco vias. Fazer perceber todo uma gama de conclusões e raciocínios que nos levam a provar a existência de Deus na obra de Tomás de Aquino é essencial para um melhor entendimento delas. Logo, um retorno a coisas anteriores – como o contato de Tomás com a filosofia aristotélica e o desenvolvimento de parte da sua teoria do conhecimento – será realizada. Como bem disse Carlos Lopes de Mattos:

Foi sobretudo em Paris que Tomás de Aquino viveu intensamente os conflitos intelectuais, típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela fé ao conhecimento pela razão, a teologia à filosofia, a crença na revelação bíblica as investigações dos filósofos gregos.

O papado controlava a organização das universidades e contribuía, para o lado dos teólogos, o embate existente entre os dialéticos (filósofos) e teólogos. A prerrogativa era que a igreja considerava a dialética uma ferramenta auxiliar para os teólogos, devendo estes não ostentá-la. Além disso, um vetor que acentuou mais os conflitos da época foram as divulgações da tradução da filosofia aristotélica. A existência de vários conflitos dessa filosofia com os dogmas da igreja levaram essa última a uma censura, porém não bem sucedida. Entretanto, visando a cristianização da filosofia aristotélica, ela “[…] só veio a se tornar possível graças aos espírito analítico, à capacidade de ordenação metódica e à habilidade dialética de Tomás de Aquino, que aliava a um profundo sentimento de fé cristã”[4].

O começo do trabalho de Tomás pode ser observado na distinção aristotélica entre essência (O que é um ser?) e existência (Esse ser existe?). A resposta da primeira pergunta sobre o ser nos leva a busca da definição de sua essência. Todavia,

“[…] para Aristóteles, uma definição não implica jamais a existência, lógica ou empírica, do definido. Assim, em Aristóteles, a distinção entre essência e existência é puramente conceitual, lógica. Tomás de Aquino, ao contrário, interpreta aquela distinção como ontológica, real”.

O pulo do gato de Aquino está justamente nessa interpretação. Ele, tendo em vista o princípio do realismo ontológico, conclui que as criaturas não existem por elas mesmas. Isso ocorre devida a definição de essência das criaturas, não resultar em sua existência, restando atribuir a algo ou alguma coisa uma origem e existência. Logo, apenas Deus contém a identidade entre essência e existência (pois existe por si e é criador e fundamento de todas as coisas e de suas existências contingentes).

Complementando ao ponto sobre a cristianização desenvolvido anteriormente, temos ainda um aprofundamento na forma como Tomás de Aquino entende o conhecer humano. Considerando também a possibilidade por ele levantada para demonstrar a existência de Deus, temos, como resultado último, as cinco vias. Tais objetivam uma única coisa: provar a existência de Deus. Partindo de uma exposição destacado por Sávio Laet de Barros Campos da teoria do conhecimento de São Tomás, é observável que temos: um conhecimento sensível, um conhecimento intelectivo e um conhecimento humano de Deus.

Conhecimento Sensível

O conhecimento é originado pelos nossos sentidos. Sabendo que o homem eleva-se através do sensível ao inteligível, nosso saber advindo dos sentidos serve de base para essa elevação. Vale detalhar que o ser humano nasce sem conhecimento –sendo desconsiderado todo conhecimento inato de coisas e criaturas -, mas com a faculdade/potência de conhecer. Aquino pressupõe que os nossos sentidos não nos enganam, pois é a nossa forma de entrar em contato com o real. E se os mesmos são enganosos, nosso conhecimento também o é – o senso comum é que está passível de erro, não os sentidos. Além disso tudo, os nossos sentidos apreendem as qualidades sensíveis dos objetos, Portanto, através dessas qualidades, conseguimos diferenciar os objetos similares por exemplo ou diferenciar objetos de qualidades similares. Mas são muitas as qualidades que um objeto tem Por isso, temos o senso comum, que nos ajuda a reunir no intelecto essas qualidades e associá-las a um ou mais objetos. Esses objetos são a imagem da própria coisa e esta é guardada na imaginação.

Conhecimento Intelectivo

Para que haja um conhecimento intelectivo, é necessário a presença de um corpo e uma alma. Assim, o intelecto deve voltar-se ao sensível para saber, pois só há saber intelectivo com a presença do sensitivo. Portanto, além de termos uma faculdade intelectiva, ela nos leva (através das qualidades das matérias do sensível) a uma universalidade dos objetos. Por isso, o objetivo do nosso intelecto é conhecer a universalidade e natureza dos objetos sensíveis. Tomás distingue duas funções do intelecto (devidamente nomeadas):

  • Intelecto agente: é “[…] aquele que abstrai da imaginação as qualidades inteligíveis do objeto”[5].
  • Intelecto possível: é “[…] aquele que reúne essas qualidades inteligíveis gerando assim o conceito, ou, a espécie expressa inteligível”[6].

Por conseguinte, “[…] o conceito é o meio no qual conhecemos o objeto, pois o conhecimento do conceito só ocorre por reflexão sobre o próprio ato cognitivo”[7].

Conhecimento Humano de Deus

Nosso conhecimento sobre Deus se dá por duas formas distintas de verdade. Na primeira, os filósofos ascendem das criaturas a Deus através da razão. O resultado é determinadas verdades sobre Deus. Na segunda, o caminho se inverte: devido certas verdades estarem além da nossa capacidade humana, a verdade se toma por revelada. Por isso os teólogos são os responsáveis por estudar as revelações de Deus. Devido a teologia conhecer a partir de Deus para as criaturas (ao invés do filósofo, que parte das criaturas até Deus), Tomás de Aquino a considera mais perfeita como doutrina e mais próxima da verdade. Portanto, não somente o conhecimento natural sobre Deus é o ápice do conhecimento humano como também a tarefa/investigação filosófica tende a saber sobre Deus, tendo sua conclusão no fim último da filosofia Deus e as suas verdades divinas, como objetos da metafísica. Com relação a esses caminhos de saber (natural e de fé), eles não se contradizem. Primeiro porque Deus dotou o ser humano de ter em si esses dois. Segundo porque elas também existem em Deus como sabedoria (e coisas contrárias não podem existir nEle, pois isso atenta a sua qualidade de perfeição). E a partir disso que Aquino toma como certo a verdade natural (dos filósofos) concordar com a fé/religião cristã (dos teólogos).

Como a verdade revelada é, não sendo preciso demonstrá-la, sempre se partirá da posição de que Deus existe (para que a revelação seja válida). Porém, não temos isso assegurado através de uma verdade natural, onde partimos da criaturas e ascendemos a Ele. Por isso a importância em provar a existência de Deus, pois qualquer conteúdo sobre ele, sem o respaldo de sua existência, não terá validade. Segue-se que a prova da existência de Deus tem que ser feita dentro dos limites do conhecimento sensitivo. Dele, apreenderemos os efeitos que Deus gera, sendo o intelecto responsável por ruminar esses e, através da sua busca da natureza e universalidade, gerar um conceito sobre Deus e suas qualidades.

Para que a proposição “Deus existe” seja provada, será necessário compreender o que é, para Tomás de Aquino, evidência e demonstração. Evidência é

“[…] o que pode não ser visto. Um objeto evidente é de tal forma manifesto à inteligência que esta não pode negá-la. Na evidência não há nada para se demonstrar. A necessidade da demonstração nasce quando uma verdade não pode ser vista pela inteligência imediatamente. Ora, a manifestação de uma verdade evidente é tão grande que não pode ser vista pela inteligência”[1].

A evidência de algo se dá por duas maneiras: em si mesmo e não para nós e em si mesmo e para nós. Em ambos os casos temos um sujeito e predicado, mas enquanto que para o primeiro é evidente por si (pois é instantaneamente entendido as definições desses elementos), para o segundo não (pois é preciso explicar/demonstrar algum elemento que não se apresenta auto evidente na proposição). A proposição “Deus existe” pertence a esse segundo tipo de evidência, devendo ser demonstrada por raciocínio. Demonstrar é “[…] esclarecer uma verdade com outra verdade”[2]. E, para Aquino, São duas formas de demonstração: a primeira começa da causa e termina no efeito, sendo que a segunda faz isso inversamente. Por fim, para chegarmos a uma prova de que “Deus existe”, será necessário partir dos efeitos no mundo para chegar na causa (que é Deus). Portanto, a outra forma de demonstração não é possível para nós, pois tanto não conhecemos a causa como o elemento de existência (predicado de Deus ou o sujeito Deus) não nos é evidente. Precisamos provar que a existência pertence a essência divina.

Conclusão

A filosofia tomasiana é rica e vasta. E, nesse artigo, vislumbramos um pouco dela – mais precisamente na prova da existência de Deus. As cinco vias, que tem por objetivo apresentar 5 provas relativamente distintas sobre a existência de Deus, são mais ricas do que a realização de uma leitura direta delas poderia imaginar. Muitos são os pontos efetivamente demonstrados entre as vias que fazem referência ao trecho da teoria do conhecimento desenvolvida por Tomás de Aquino. Por fim, visando não somente apresentar as cinco vias, procurei complementá-las através de um desenvolvimento minimamente necessário.

Notas de rodapé

1. Licenciando do curso de filosofia na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
2. CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. P. 10. Disponível em: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.
3. Farei a partir de agora a apresentação de todas as cinco vias através da lógica proposicional, pois além da facilidade em observar o argumento de forma completa e enxuta, fica mais fácil referenciar determinada parte dele apenas fazendo menção ao número associado a determinada premissa/conclusão durante o texto.
4. MATTOS, Carlos Lopes de. Sto. Tomás de Aquino, Dante Alighieri (Os pensadores). P. 10. Disponível em http://copyfight.me/Acervo/livros/AQUINO,%20Tomas%20-%20Dante%20-%20Colec%CC%A7a%CC%83o%20Os%20Pensadores.pdf. Acesso em: 05 de Fevereiro de 2015.
5. CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. P. 17-18. Disponível em: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.
6. CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. P. 18. Disponível em: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.
7. CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. P. 18. Disponível em: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.
8. CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. P. 22. Disponível em: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.
9. CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. P. 23. Disponível em: http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.

Referências

CAMPOS, Sávio Laet de Barros. As Provas da Existência de Deus em Tomás de Aquino. Disponível em:http://filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Provas_Existencia_Deus_Tomas_de_Aquino.pdf. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.

TORREL, Jean-Pierre. Iniciação a Santo Tomás de Aquino: Sua pessoa e sua obra. Trad. Luiz Paulo Rouanet. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999. P. 174-176.

FARIA, Domingos. Deus existe? Cinco argumentos de Tomás de Aquino. Disponível em:http://blog.domingosfaria.net/2013/01/deus-existe-cinco-argumentos-de-tomas.html. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.

MATTOS, Carlos Lopes de. Sto. Tomás de Aquino, Dante Alighieri (Os pensadores). Disponível em http://copyfight.me/Acervo/livros/AQUINO,%20Tomas%20-%20Dante%20-%20Colec%CC%A7a%CC%83o%20Os%20Pensadores.pdf. Acesso em: 05 de Fevereiro de 2015.

NASCIMENTO, Rosemberg do Carmo; ROSA, Jhonatas Tadeu da Costa. A concepção de Deus na filosofia medieval em São Tomás de Aquino, Santo Anselmo e Santo Agostinho. Disponível em: http://pensamentoextemporaneo.wordpress.com/2012/02/08/a-concepcao-de-deus-na-filosofia-medieval-em-sao-tomas-de-aquino-santo-anselmo-e-santo-agostinho/. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.

WIKIPÉDIA. Existência de Deus: As cinco provas de Tomás de Aquino. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Exist%C3%AAncia_de_Deus#As_cinco_provas_de_Tom.C3.A1s_de_Aquino. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2014.

DOES QUANTUM PHYSICS MAKE IT EASIER TO BELIEVE IN GOD?

Stephen M. Barr

Professor of Physics at the University of Delaware.

Not in any direct way. That is, it doesn’t provide an argument for the existence of God. But it does so indirectly, by providing an argument against the philosophy called materialism (or “physicalism”), which is the main intellectual opponent of belief in God in today’s world.

Materialism is an atheistic philosophy that says that all of reality is reducible to matter and its interactions. It has gained ground because many people think that it’s supported by science. They think that physics has shown the material world to be a closed system of cause and effect, sealed off from the influence of any non-physical realities — if any there be. Since our minds and thoughts obviously do affect the physical world, it would follow that they are themselves merely physical phenomena. No room for a spiritual soul or free will: for materialists we are just “machines made of meat.”

Quantum mechanics, however, throws a monkey wrench into this simple mechanical view of things. No less a figure than Eugene Wigner, a Nobel Prize winner in physics, claimed that materialism — at least with regard to the human mind — is not “logically consistent with present quantum mechanics.” And on the basis of quantum mechanics, Sir Rudolf Peierls, another great 20th-century physicist, said, “the premise that you can describe in terms of physics the whole function of a human being … including [his] knowledge, and [his] consciousness, is untenable. There is still something missing.”

How, one might ask, can quantum mechanics have anything to say about the human mind? Isn’t it about things that can be physically measured, such as particles and forces? It is; but while minds cannot be measured, it is ultimately minds that do the measuring. And that, as we shall see, is a fact that cannot be ignored in trying to make sense of quantum mechanics. If one claims that it is possible (in principle) to give a complete physical description of what goes on during a measurement — including the mind of the person who is doing the measuring — one is led into severe difficulties. This was pointed out in the 1930s by the great mathematician John von Neumann. Though I cannot go into technicalities in an essay such as this, I will try to sketch the argument.

It all begins with the fact that quantum mechanics is inherently probabilistic. Of course, even in “classical physics” (i.e. the physics that preceded quantum mechanics and that still is adequate for many purposes) one sometimes uses probabilities; but one wouldn’t have to if one had enough information. Quantum mechanics is radically different: it says that even if one had complete information about the state of a physical system, the laws of physics would typically only predict probabilities of future outcomes. These probabilities are encoded in something called the “wavefunction” of the system.

A familiar example of this is the idea of “half-life.” Radioactive nuclei are liable to “decay” into smaller nuclei and other particles. If a certain type of nucleus has a half-life of, say, an hour, it means that a nucleus of that type has a 50% chance of decaying within 1 hour, a 75% chance within two hours, and so on. The quantum mechanical equations do not (and cannot) tell you when a particular nucleus will decay, only the probability of it doing so as a function of time. This is not something peculiar to nuclei. The principles of quantum mechanics apply to all physical systems, and those principles are inherently and inescapably probabilistic.

This is where the problem begins. It is a paradoxical (but entirely logical) fact that a probability only makes sense if it is the probability of something definite. For example, to say that Jane has a 70% chance of passing the French exam only means something if at some point she takes the exam and gets a definite grade. At that point, the probability of her passing no longer remains 70%, but suddenly jumps to 100% (if she passes) or 0% (if she fails). In other words, probabilities of events that lie in between 0 and 100% must at some point jump to 0 or 100% or else they meant nothing in the first place.

This raises a thorny issue for quantum mechanics. The master equation that governs how wavefunctions change with time (the “Schrödinger equation”) does not yield probabilities that suddenly jump to 0 or 100%, but rather ones that vary smoothly and that generally remain greater than 0 and less than 100%. Radioactive nuclei are a good example. The Schrödinger equation says that the “survival probability” of a nucleus (i.e. the probability of its not having decayed) starts off at 100%, and then falls continuously, reaching 50% after one half-life, 25% after two half-lives, and so on — but never reaching zero. In other words, the Schrödinger equation only gives probabilities of decaying, never an actual decay! (If there were an actual decay, the survival probability should jump to 0 at that point.)

To recap: (a) Probabilities in quantum mechanics must be the probabilities of definite events. (b) When definite events happen, some probabilities should jump to 0 or 100%. However, (c) the mathematics that describes all physical processes (the Schrödinger equation) does not describe such jumps. One begins to see how one might reach the conclusion that not everything that happens is a physical process describable by the equations of physics.

So how do minds enter the picture? The traditional understanding is that the “definite events” whose probabilities one calculates in quantum mechanics are the outcomes of “measurements” or “observations” (the words are used interchangeably). If someone (traditionally called “the observer”) checks to see if, say, a nucleus has decayed (perhaps using a Geiger counter), he or she must get a definite answer: yes or no. Obviously, at that point the probability of the nucleus having decayed (or survived) should jump to 0 or 100%, because the observer then knows the result with certainty. This is just common sense. The probabilities assigned to events refer to someone’s state of knowledge: before I know the outcome of Jane’s exam I can only say that she has a 70% chance of passing; whereas after I know I must say either 0 or 100%.

Thus, the traditional view is that the probabilities in quantum mechanics — and hence the “wavefunction” that encodes them — refer to the state of knowledge of some “observer”. (In the words of the famous physicist Sir James Jeans, wavefunctions are “knowledge waves.”) An observer’s knowledge — and hence the wavefunction that encodes it — makes a discontinuous jump when he/she comes to know the outcome of a measurement (the famous “quantum jump”, traditionally called the “collapse of the wave function”). But the Schrödinger equations that describe any physical process do not give such jumps! So something must be involved when knowledge changes besides physical processes.

An obvious question is why one needs to talk about knowledge and minds at all. Couldn’t an inanimate physical device (say, a Geiger counter) carry out a “measurement”? That would run into the very problem pointed out by von Neumann: If the “observer” were just a purely physical entity, such as a Geiger counter, one could in principle write down a bigger wavefunction that described not only the thing being measured but also the observer. And, when calculated with the Schrödinger equation, that bigger wave function would not jump! Again: as long as only purely physical entities are involved, they are governed by an equation that says that the probabilities don’t jump.

That’s why, when Peierls was asked whether a machine could be an “observer,” he said no, explaining that “the quantum mechanical description is in terms of knowledge, and knowledge requires somebody who knows.” Not a purely physical thing, but a mind.

But what if one refuses to accept this conclusion, and maintains that only physical entities exist and that all observers and their minds are entirely describable by the equations of physics? Then the quantum probabilities remain in limbo, not 0 and 100% (in general) but hovering somewhere in between. They never get resolved into unique and definite outcomes, but somehow all possibilities remain always in play. One would thus be forced into what is called the “Many Worlds Interpretation” (MWI) of quantum mechanics.

In MWI, reality is divided into many branches corresponding to all the possible outcomes of all physical situations. If a probability was 70% before a measurement, it doesn’t jump to 0 or 100%; it stays 70% after the measurement, because in 70% of the branches there’s one result and in 30% there’s the other result! For example, in some branches of reality a particular nucleus has decayed — and “you” observe that it has, while in other branches it has not decayed — and “you” observe that it has not. (There are versions of “you” in every branch.) In the Many Worlds picture, you exist in a virtually infinite number of versions: in some branches of reality you are reading this article, in others you are asleep in bed, in others you have never been born. Even proponents of the Many Worlds idea admit that it sounds crazy and strains credulity.

The upshot is this: If the mathematics of quantum mechanics is right (as most fundamental physicists believe), and if materialism is right, one is forced to accept the Many Worlds Interpretation of quantum mechanics. And that is awfully heavy baggage for materialism to carry.

If, on the other hand, we accept the more traditional understanding of quantum mechanics that goes back to von Neumann, one is led by its logic (as Wigner and Peierls were) to the conclusion that not everything is just matter in motion, and that in particular there is something about the human mind that transcends matter and its laws. It then becomes possible to take seriously certain questions that materialism had ruled out of court: If the human mind transcends matter to some extent, could there not exist minds that transcend the physical universe altogether? And might there not even exist an ultimate Mind?

Discussion Summary

In my BQO essay I sought to explain in non-technical language the main issues that lead to different “interpretations” of quantum mechanics, and why they present a choice between the anti-materialist implications of the traditional Copenhagen interpretation and the bizarre and (for most people) incredible implications of the Many Worlds Interpretation (MWI).

Another way to frame the argument is in terms of the “ontological status” of wavefunctions. The most obvious thing is to think of a wavefunction as simply a straightforward description of “the world as it is”. But that is equivalent to the MWI, because generally speaking the wavefunction of a system contains a large number of branches in which the system behaves in different ways. The alternative view (adopted in the Copenhagen interpretation) is that a wavefunction is not an account of the world as it is, but of some observer’s state of knowledge of the world. That interpretation brings knowledge (and therefore mind) into the discussion as something that is as fundamental as matter, because wavefunctions themselves are fundamental to our understanding of the world.

These seem to be the only viable choices if one accepts the present formalism of quantum mechanics. The third possibility, then, is to say that this formalism needs to be changed somehow. Several commentators on my article either mentioned or proposed approaches to modifying quantum mechanics. Two well-known approaches that they mentioned were “hidden variables theories” and “objective collapse theories”. Certainly, science can never be absolutely certain that it has arrived at a final and complete description of the physical world; so it will always remain a possibility that present quantum mechanics is incomplete and that a modification of its formalism will resolve all its puzzles, paradoxes, and conundrums. However, as I explained in my responses, the present formalism of quantum mechanics has been spectacularly successful since the 1920’s in describing with astonishing precision a vast range of phenomena. It seems less likely than it once did that it will have to be modified. (Many, including one commentator on my essay, have seen the difficulty of combining present quantum mechanics with Einstein’s theory of gravity as evidence that the former will have to be modified. Superstring theory shows, however, that Einstein’s theory can be consistently “quantized”.)

Not only does the traditional interpretation of quantum mechanics have anti-materialist implications, but, as noted by more than one commentator, it is compatible with philosophical idealism (which makes mind the only fundamental reality) and even with solipsism (which makes one’s own mind the only reality). If we reject such extremes and take the view that both matter and mind are fundamental and equally real, then a question arises: how are they related to each other?

Connected with this question is a common objection made to the Copenhagen interpretation, which is that it seems to say that the minds of “observers” have a spooky influence on the physical world. In particular, the idea that “wavefunction collapse” is caused by “observations” seems to suggest that human knowers actually cause events to happen by knowing them. As one commentator pointed out, this would be a radical reversal of traditional ideas about the relation of knower and known. Indeed, the traditional interpretation of quantum mechanics strikes many people as “subjectivist”. It is questionable whether the Copenhagen Interpretation really has these “anti-realist” implications. At the very least, however, it makes problematic the question of what is “really going on when no one is looking”. In other words, if the wavefunction of a system is not a straightforward description of “the world as it is,” but just of some observer’s knowledge of it — then what WOULD a description of the world as it is look like? This is, indeed, an awkward question for the traditional interpretation to deal with — though various attempts have been made to answer it. A second problem connected with the relation between mind and matter, raised by another commentator to my essay, is how the relation between mind and brain is to be thought of. This is quite mysterious at present. A third question is what kinds of minds qualify as “observers” in the Copenhagen interpretation of quantum mechanics. One commentator asked why it would have to be only human minds. The answer is that it wouldn’t, but it seems it would have to be a mind capable of knowing the results of measurements and one not entirely describable by physics. Purely physical devices or inanimate things such as atoms and bacteria would not seem to qualify, whereas humans certainly do. Somewhere in between there is a line, but where it should be drawn is debatable.

It has long been suggested that the special role of mind in quantum mechanics as traditionally interpreted, together with the indeterminacy of the theory, may provide an opening for free will to operate in the world. Though I did not discuss this in my essay, several commentators did. Again, this is a murky and much debated subject.

Altogether, it is clear that quantum mechanics raises more philosophical questions that it solves.

Here are two “Big Questions” that it raises.

Two New Big Questions:


  1. Does quantum indeterminacy provide an opening for free will?
  2. In the context of the traditional Copenhagen interpretation of quantum mechanics, what would a complete description of the world through time, apart from what any “observer” knows about it, look like?